11 de dezembro de 2011

Recomeçando...


Depois de algum tempo sem nada postar por falta de tempo, voltei! E, para recomeçarmos, vamos de Manuel Bandeira (influência do meu queridíssimo amigo Roney Costa).
Antes de perguntarem sobre a foto: para quem não sabe, o Taj Mahal é um mausoléu, que alguém construiu para guardar os restos mortais da mulher que amava.

Arte de Amar

"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não."

(Manuel Bandeira)

26 de outubro de 2011

Para Bille e Charlotte...


Protelando...

"Quando eu tinha sete anos, tive caxumba. Era o final de uma manhã de novembro, e eu estava impossibilitado de fazer muitas coisas por conta daqueles nódulos que se inflamaram no meu pescoço. Estava tristíssimo, pois a vida já havia me negado tudo e me roubado o pouco que restava também. A exaustão já me havia tomado de uma tal maneira que eu comecei a desenhar com lápis colorido num papel qualquer, pra ver se o céu do meu mundo ficava mais azul, ou se o sol ganhava novas cores que valessem a pena. Mas foi no final dessa manhã ensolarada de novembro que minha tia Sandra chegou da faculdade, animadíssima, como se a vida lhe houvesse sorrido com pontos de exclamação.
- O seu Zezinho está no portão da casa dele distribuindo cachorrinhos; Neusa – disse ela à minha mãe, os meninos podem pegar um?
Minha mãe, relutante, acabou permitindo, muito embora dissesse que nós teríamos que cuidar dele. Recomendou que escolhêssemos um macho, senão, nada feito! Enchi-me de uma importância e, como se eu fosse um homem feito, abri o portão e fomos os três – minha tia, meu irmão e eu – rumo à casa onde o evento estava acontecendo. Meu irmão, eu não sei, mas sempre quis ter um bicho e descobri, logo de início, que um cachorro seria essencial à minha felicidade!
Imediatamente, escolhemos o pequeno canino que tinha apenas duas semanas. Caminhamos pela calçada até chegarmos em casa e, em prazo de um quarteirão, cheguei a um ponto do amor quase sombrio, de tão desconhecido que ele me era. Eu mal havia tocado naquele cachorrinho que chorava muito, mas já o amava com um amor quase soberbo, pois sabia que ele seria meu amigo. Ao chegarmos em casa, pegamos uma caixa de papelão, forramos com uma toalha e já fomos providenciar um pires de leite para ele, pois nem sabíamos como se cuidava de um cachorro. Era desengonçado, andava todo torto, mas eu já o amava e sabia que seria meu melhor amigo para sempre, como se eu o conhecesse desde meu nascimento.
O tempo foi passando e eu no fundo, sabia que, algum dia, o Bille iria ter que morrer. Ficou conosco oito anos e tinha cara de lobo; era bravo, latia muito mas nem tinha raça! O que importava? A raça é o de menos quando se tem amor! Quando ele morreu, chorei muito. Senti que ia com ele um pedaço importante de mim; era como se um sonho de felicidade estivesse se estilhaçando ali. Morreu com ele uma parte de mim.
Poucos meses depois, trouxe Charlotte para casa. Já não morávamos mais com minha avó, e eu insisti novamente pela pobre cachorrinha rejeitada pela mãe. Eu a trouxe.
O mais engraçado é que eu sabia, de inicio, que um dia Charlotte também morreria. Entendi no momento em que coloquei o leite pra ela no pires pela primeira vez, que eu estava apenas protelando um sofrimento sem saber por quanto tempo. Sabia que ela teria de morrer e que mais um pedaço de mim morreria junto.
Senti, de súbito, um nó na garganta, uma lágrima rolou de meus olhos. Era julho e fazia frio. Fim de tarde. No final agoniante das contas, vivi treze anos de aflição, protelando o sofrimento que a morte de Charlotte iria, certamente me causar. Dito e feito!
Primeiro a descoberta de uma doença tenebrosa, depois, assistir inerte, impotente a minha amiga fiel definhar lentamente.
No dia em que ela teve que ser morta, olhei-a uma última vez, passei-lhe a mão carinhosamente sobre a cabeça e disse-lhe que estava tomando aquela atitude por não achar justo vê-la sofrer. Ela me olhou nos olhos, como se desejasse me dizer que entendia. Chorei – coisa que eu já estava a fazer há dias – e fui trabalhar, me dando o direito de não presenciar o ato. Era setembro.
Desde então, nunca mais peguei animais para criar e sinto falta deles. Não penso que deixei de protelar certas dores. Muito pelo contrário: tem certas dores que preciso viver, das quais não posso fugir, mas vou protelando ao não querer entrar em contato.
Hoje protelo a dor de me apaixonar, protelo a dor de amar alguém, protelo a dor de me decidir por algo em detrimento de outro.
Penso, na verdade, que só mudam as dores, as circunstâncias, mas está sempre ali. A moldura pode até mudar, mas se a pintura é a mesma, ainda continua sendo o mesmo quadro. Assim é a dor. Pode-se mudar sua moldura, a parede onde se há de pregar o quadro, mas ainda assim, sempre será um quadro. Pode-se mudar a ocasião, o motivo, mas ainda assim, sempre será a dor". (Juliano Cruz – 10/09/2011 – 00:46h)


P.S.: A foto mostra Charlotte nos dias finais de sua vidinha...

11 de outubro de 2011

"Um amigo é a metade de uma alma"

Ao meu amigo
(Para G.)

"Era madrugada qualquer...quase tediosa.
Diante de mim, apenas o computador ligado
E mil quimeras todas sepultadas, sem que
Eu tivesse a chance de tentar o contrário.
Uma conversa se inicia: apresentações, leveza e
Afinidades que iam se atraindo.
O que houve, ao certo?
Não sei e nem pretendo!
Mas sei que a partir de agora
Um novo amigo faz parte de minha história.
Caminha comigo, distante e próximo.
Eu não o conheci nessa madrugada,
Apenas o reconheci, porque era como
Se eu o procurasse, sem saber que ele existia!"

Juliano Cruz
11/10/2011 – 18:21h

P.s>: Não encontrei uma imagem que pudesse falar a respeito de amizade e que coubesse nesse post.

3 de setembro de 2011

Claro como um enigma...


"Há quem diga que quanto maior é o vôo, muito maior é a queda. Desde que meu mundo é mundo, a minha vida foi alçar altos vôos para, logo em seguida, eu sofrer a queda terrível da alma! Não sei bem como explicar, mas é como se minha alma passasse, constantemente, por uma experiência de morte. Reformulando: é como se minha alma passasse continuamente pela experiência de ter que morrer.
Hoje, por exemplo, sinto por dentro como que um frio no estômago, igual àqueles que se tem quando se toma um susto. No fundo, acho que nascer me assustou de tal forma que tenho, em tempo integral, a impressão de estar num sobressalto, como se eu acordasse no meio da noite com o telefone tocando escandalosamente, ou como se alguém me espreitasse atrás de uma porta para, quando eu estiver passando, me assustar com um grito ou um movimento brusco demais.
E vivo assim: assombrado, sobressaltado, sem muita noção de quem sou e me assustando a cada detalhe meu que se revela ao longo dos dias! Me assusta, muitas vezes, descobrir quem sou de verdade; me amedronta saber do que sou capaz, e de até que ponto do amor eu posso ir.
Fico pensando, me repensando, e vejo que nada sei de mim, que sou um mistério insondável, um enigma que não se revela, mas que me parece tão claro..."

(Juliano Cruz – 03/09/2011 – 00:04h)

27 de agosto de 2011

Quase uma certeza...


"Não sei o que vi nos teus olhos
Que em outros olhos não vi.
E me senti completo ao me ver
Refletido em tuas pupilas, Amor.
M as já agora, não sei o que há,
Que não consigo mais me encontrar
Em teus profundos olhos de mar.
Outras coisas, agora, compões
Teu olhar; outras direções
São alvo do teu querer.
Sinto já não mais haver
Espaço para mim na doçura
Dos teus olhos inquietos.
Vou retirar meu olhar do teu,
E procurar um olhar onde
O meu possa se perder
E aí descansar".

Juliano Cruz
26/08/2011 – 23:59h

22 de agosto de 2011

O óbvio precisa ser dito!


A Gente Se Acostuma

"A vida, segundo penso, não deveria ser vivida do jeito que se vive. Existe tanta coisa genuína para nos satisfazer o espírito, mas nossa visão se entorpece por aquilo que é efêmero, que se liquefaz com avidez e muita facilidade; por aquilo que se evanesce num piscar de olhos. Acabamos por nos acostumar Ao que é fútil, ao que é rápido, sem valor, e esquecemos de prestar atenção às mínimas coisas que podem compor a nossa tão almejada felicidade. Não reparamos mais nos gestos simples, nos momentos únicos ao lado de quem a gente ama; não sabemos mais apreciar uma boa conversa, ou mesmo nos deleitar na leitura de um bom livro. Tudo é pra ontem, tudo exige rapidez; tudo é urgente, tudo tem que estar dentro do tempo.
A gente se acostuma. Não devia, mas se acostuma a viver sob a pressão dos ponteiros que correm não mais velozes, pois o tempo continua seu curso normal, nós é que assumimos coisas demais, responsabilidades demais, preferindo anular a nossa vida, os nossos relacionamentos em prol de uma realização que costuma ser tão rasa, tão tênue que não altera quase nada em nossa vida. A gente se acostuma à idéia de que ser feliz é ter tudo, é não sofrer com as negações da vida. A gente se acostuma a ver incutirem em nossos filhos a idéia mentirosa de que a vida é sempre um pôr-do-sol dourado no horizonte, e tira deles a responsabilidade pelos próprios atos. A gente se acostuma a permitir que entupam o cérebro de nossas crianças com tudo que existe de fútil e banal. A gente não devia, mas se acostuma.
A gente se acostuma a achar que o padrão imposto por não sei quem é o que se deve seguir. Que é necessário ter um corpo esculturalmente musculoso, definido, todo de acordo com os corpos que a internet e a televisão vomitam em nossos lares. A gente se acostuma a ver as violências morais, psicológicas e físicas e não faz nada, porque perdeu-se a capacidade de compaixão; a gente nãos abe mais se compadecer porquê acha que ninguém é digno de pena, de dó, de compaixão. A gente se acostuma a ver a gastar dinheiro com tanta coisa, com tanta bobagem e a reclamar que a vida está difícil, que o dinheiro não dá.
A gente não devia, mas se acostuma a investir em relacionamentos sem futuro, que vão nos machucar, previsivelmente. A gente se acostuma a investir em pessoas que não darão a reciprocidade necessária, que não optarão por nós como optamos por eles. A gente se acostuma a dar amor a quem não o merece, a dar atenção a quem não a fez por merecer. A gente se acostuma a anular os sonhos, a varrê-los pra debaixo do tapete pra realizar o sonho do outro, pra angariar a afeição do outro, enquanto o outro não pensa em aniquilar a si próprio por nós. A gente se acostuma a esperar demais das pessoas; se acostuma às decepções que isso traz. Se acostuma a ser apunhalado, a sofrer calado, a amar em silêncio, a calar a nossa voz, a não dizer nada, a viver miseravelmente uma vida que não precisaria ser assim em nome de uma fé, de uma boa educação que nada tem a ver.
Infelizmente, a gente se acostuma. Não deveria, mas se acostuma a não mais abrir a janela, a não mais sorrir, a não mais conversar com as pessoas. A gente vive o nosso mundinho, com nossos fones de ouvido, com nossos celulares, com nossa luz artificial, com nossos deliverys e fast-food. A gente se acostuma a preservar tanto a individualidade que as relações reais estão agonizando, definhando em nome de uma popularidade medíocre numa rede social. A gente se acostuma à felicidade de balada, de um dia de sol, e acha que a vida é só isso. A gente já se acostumou a não ler, a não se envolver, a calar nossa voz. E vamos morrendo aos poucos, afundados nesse mar revolto que é a vida, porque não somos capazes de nos acostumar à idéia da morte".
(Juliano Cruz - 22/08/2011 - 00:15h)

19 de agosto de 2011

Náusea matutina...


Após praticamente um mês sem escrever e sem postar nada devido à grande falta de tempo e inspiração, volto a partilhar com vocês um poemazinho bem medíocre que acaba de ser escrito. Sintam-se à vontade para dizer que é muito, mas muito ruim!

Espelho

"Olhei furtivamente minha imagem
Refletida no espelho do banheiro
Das paredes impecavelmente brancas.
Não me reconheci: era um estranho
Diante de mim, porquê não sou eu mesmo,
Mas sou possuído por muitos,
Que tantas vezes nem nomes possuem.
Não sei se o que vi refletido era a verdade,
Mas para mim, nesta manhã insólita,
O que menos importava era saber
Se era a verdade pura e simples,
Ou uma verdade inventada".
Juliano Cruz
19/08/2011 – 00:00h


21 de julho de 2011

Ah...


Ah...a dor de existir; o peso de (não) sentir!

"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo".
(Fernando Pessoa)

19 de julho de 2011

Onde será que fica o "pause" da vida?


Ausente de mim...
"Às vezes me acontece, e toda vez que me acontece, acontece tão subitamente como se evanesce, de sentir na alma um peso tão grande da vida que minha vontade, se me fosse possível, seria a de me ausentar de mim mesmo e ficar num modo como “em suspenso” por algum tempo para depois poder retornar a mim mesmo.
Hoje é um dia assim. O peso da vida já foi e voltou tantas vezes à minha alma que ao olhar-me no espelho, ainda há pouco, tive a sensação de estar cinza, como a nuvem de poeira que paira sobre a cidade nestes dias estranhos e áridos de inverno, que mais parecem um verão desértico. O ar tornou-se para mim de um amarelo tosco e desbotado, e a respiração ficou difícil, tamanho era o incômodo que a vida me infligia. Nada aconteceu para tal, mas creio que essa seja uma condição sine qua non de viver. Talvez o meu modo de vida, a minha essência esteja fadada a sentir esse peso sempre que a vida se dá ao luxo de o dar a mim.
Sim, realmente o dia está cinzento para mim hoje. Não que os outros dias tenham cores quentes e vivas, mas o cinza de hoje está mais denso, mais nebuloso que o cinza dos outros dias ditos “normais”. Aliás, creio que os dias cinzas sejam normais; os dias cheios de cores são a exceção e muitos, talvez, se enganam ao pensar que estão sendo felizes por...(?)
Na verdade, não tenho a mínima pretensão de dizer a quem quer que seja o que vem a ser a felicidade. Cada um sabe de si e, antes que minha mente resolva questionar-me, já adianto que eu não sei de mim. De mim só sei que não sou, estou sendo. Geralmente à duras penas, respirando a secura deste ar amarelado e espesso, neste mundo que só se faz inospitalidade e solidão.
Não penso que o que escrevo seja uma visão pessimista das coisas. Na verdade, creio que esta é a minha realidade interna e o mínimo que preciso é ser respeitado. Ninguém é obrigado a gostar mas respeito, aqui neste ponto, é fundamental. Não era assim que eu queria que fosse, mas eu também sou obrigado a me aceitar e respeitar". (19/07/2011 – 16:40h)

10 de julho de 2011

A gente se acostuma...


Há alguns dias li este texto por indicação de um conhecido. Achei oportuno postá-lo e compartilhá-lo com quem passar por aqui. É um texto bem reflexivo. Espero que gostem e que ajude a repensar em algumas coisas como me ajudou.

Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma"
.

1 de julho de 2011

Dia cinza...


Apêndice

"Há certos dias em minha vida que, se me fosse possível, eu optaria por me desabitar, abandonar meu próprio corpo, minha própria existência e me deixaria num modo como “em suspenso”, tamanho é o incômodo que sinto gritar dentro em mim. Não sei bem como isso se dá, e também pouco me importa, mas é um não sei quê de desassossego, de dor, de morte lenta e dolorosa que se instala no centro da alma e se alastra por todo o corpo sem cerimônia alguma.
Em dias assim, o ar, por mais límpido e puro que seja, me parece de uma cor ocre-amarelada, quase como uma foto antiga, já desbotada pelo tempo. O céu, por mais azul e iluminado, me dá a impressão de estar cinza, com um tom quase mórbido de nebulosidade. Na verdade, sei que – me custa admitir o que segue – quem está cinza não é o céu, e quem está palidamente amarelado não é o ar, mas eu mesmo! É uma dose maciça de verdade, mas sou forçado a dizê-lo para que eu me alivie desta intempérie que se forma quase violentamente dentro de mim.
Sinto em dias assim com mais certeza do que em outros que sou como o apêndice de um livro: com ou sem ele, a história não será alterada. É justamente assim que me sinto! Sou o apêndice da minha própria vida, algo sem muita importância, anexado a ela por sabe-se lá que motivo, se é que existe um motivo para tal. É como se a minha vida já estivesse pronta, acabada e, de repente, eu fosse anexado a ela, ou seja, ela não muda, já estava acabada, concluída e eu fui anexado a ela para simplesmente fazer parte, sem maiores explicações". (01/07/2011 - 14:30h).

16 de junho de 2011

No rosto sorrisos de alegria. Na alma, turbilhões!


Caos

"Como sempre, é madrugada. O silêncio que paira sobre esta noite fria torna-se mais perturbador a cada golfada de ar que me enche o peito de uma vida insípida, que só se deu ao trabalho, desde que me reconheço como gente, de me golpear das maneiras mais baixas que alguém possa imaginar. O ar gélido deste fim de outono deixa na alma uma sensação mais incisiva de vazio, e a solidão, pelo que vejo, alastra-se, desenrola-se ao sabor da leve brisa que balança as janelas empoeiradas. Quase vejo no ar uma cor amarelada, como de páginas envelhecidas de um livro triste, onde gotas de amor e morte fundiram-se numa única embriaguez.
A cada dia, viver me é mais violento, doloroso. Me vejo cada dia mais só, ao perceber que todas as possibilidades vão se extinguindo, se afastando de mim. Queria, pelo menos uma vez na vida, escrever sobre uma alegria radiante que me invadisse a alma. Ou mesmo sobre como o céu azul me tocou no fundo do âmago; ou mesmo como o sol de verão, de um domingo qualquer, me arrancou um sorriso inusitado, mas não!
Apenas o que se concentra em minha alma são turbilhões, turbilhões, turbilhões...
Nunca soube o que é provar de um único segundo de paz, de leveza. Tudo em mim se faz um caos absoluto, de intensidade tamanha que chega a me tirar o fôlego. Se um dia me roubassem a possibilidade de viver desse modo, certamente eu morreria. Não fisicamente, mas por dentro, na alma – muito embora ela já tenha morrido há anos – pois me forçariam a viver num mundo que não é meu. Sem caos, certamente não existo. Sem os turbilhões, provavelmente desfaleço! Sem as águas indóceis das minhas dúvidas, tristezas e amores que desmoronam ora por estupidez minha, ora por afastamento de outros, certamente não seria eu, pois é justamente isso que alimenta meus versos, que me impulsiona a qualquer outra coisa, na esperança vã de conseguir ser não-cinza!"
. (Juliano Cruz - 16/06/2011 01:20h aprox.)

30 de maio de 2011

Porque sempre há separações a acontecer...


Soneto de Separação

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente".


(Vinicius de Morais)

29 de maio de 2011

Felicidade Abortada


A gente, ao longo da vida, descobre tanta coisa...às vezes, tenho a impressão de que a única coisa que a vida vai me oferecer são seus duros golpes, que vão apenas me fazendo perceber o quão nefasto é existir! Mundo inóspito! Quase incongruente.
E nesta noite, mais uma decepção, mais uma possibilidade de felicidade que me foi abortada sem quaisquer explicações. Acho que eu já devia estar ahbituado a isso e nem esperar mais das situações, da vida, por que tudo, hoje, se fez desilusão.

"Dentre as várias descobertas
Que fiz nesta vida funesta,
Uma das piores que fiz,
Ainda há pouco e que me
Soou como um duro golpe:
A possibilidade de felicidade é
Apenas a ilusão que
Habita entre dois momentos de puro vazio!"

Juliano Cruz
29/05/2011 – 00:33h

24 de maio de 2011

29...


"Com grande grau de trepidação, cheguei ontem aos meus 29 anos! Olha só...eu que nunca sonhei em sobreviver por tanto tempo, estou a um mísero passo de completar três décadas.
29, vinte e nove, XXIX...nossa como é meio assustador chegar a isso. Parece que foi ontem que eu entrava, sendo carregado no colo de alguém pelo corredor da casa da minha avó, berrando com um espinho no pé m(essa é uma das primeiras lembranças que tenho da minha vida). Parece que foi há tão pouco tempo que brincávamos de esconde-esconde dentro de casa, que ficávamos até tarde da noite na rua, brincando, nos tórridos verões de Araraquara. Nem parece que faz tempo que saí de casa para viver uma experiência na Toca de Assis e depois no seminário em Osasco...
Quase trinta anos! Que medo em dá do que vai acontecer, do que me espera, de quem vou encontrar. Sempre pensei que eu fosse morrer jovenzinho, aliás, durante um tempo,a te desejei que isso acontecesse, mas hoje, parece que estou resignado com o fato de eu, possivelmente, envelhecer.
Que itinerário louco, nada linear nesse tempo todo. Já ganhei, já perdi (mais o segundo que o primeiro), já ri e já chorei, já amei e não fui correspondido, já sofri em silêncio, já esperei o que nunca chegou. Aliás, eu espero respostas, mas elas nunca chegam, mesmo que eu vá atrás delas.
Quando bateu meia-noite do dia 23 (faço aniversário em 23 de maio), alguém me perguntou o que me faltava na vida. Parei por um instante para pensar na resposta. Na verdade, a resposta foi mais pra mim mesmo do que para quem me perguntou. Respondi que não sabia o que me faltava, MS sentia que me faltava algo (para quem acompanha o que escrevo e digo, isso nem é novidade). É como a história da terceira perna, que Clarice Lispector magistralmente narra no livro A Paixão Segundo G.H.
No fim das contas, não tive grandes diversões no dia em que, segundo dizem, é meu. Nada fora do normal, para uma segunda-feira. Acordei, fiz minha oração, coloquei roupa na máquina de lavar, fui a um dos meus estágios no asilo, fui pra aula à noite. Tudo dentro dos conformes, até porquê, não gosto de comemorar aniversários.
Só fico pensando se estou vivendo em vão esses anos todos. Sinto que preciso fazer algo de útil para o mundo, tanto para o meu mundo como para o mundo das pessoas. Me questiono se estou deixando uma marca positiva na vida das pessoas, na vida daqueles que estão perto de mim.
Enfim...cheguei aos 29 anos. Como diz a música que a Bel em enviou: “saia da frente com o seu sorriso, pois eu quero passar com a minha dor”. Não sei onde dói, mas está doendo desde que me conheço por gente. Muito antes de eu completar os 29..." (Juliano Cruz - 24/05/2011 - 15:54h)

20 de maio de 2011

O mundo do Misantropo


Uma das frases de Clarice Lispector que traduz muita coisa em mim, diz o seguinte:
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...ou toca, ou não toca".

Desse modo, ofereço hoje uma fatia do meu universo, para que, quem desejar, possa tocar, entrar em contato.
Ficou um poeminha bem tosco, mas enfim...

Universo (Meu Mundo)

"Quarto sem luz, música alta,
Livros espalhados,
Poemas inacabados,
Chuva batendo na janela!

Amor fracassado,
Solidão danada.
Ônibus lotado,
Terapeuta atrasada!

Família reunida,
Falando de vida.
CDs desorganizados,
Relatórios espalhados.

Dias nublados
Manhãs acinzentadas,
Evangelho rezado,
Relógio parado!

Celular que se cala,
Interfone enguiçado.
Deus que não fala,
Homem que chora".

Juliano Cruz
20/05/2011 – 18:56h


P.S.: A imagem trata-se do vulcão havaiano Kilauea.

19 de maio de 2011

A que ponto chegamos!




Fanatismo

"Tu me habitas!
Desde que surgiste, qual raio
De sol em minha vida,
Habitas-me...
De tal modo que em tudo
Vejo-te e sinto tua presença
Ainda desconhecida, quase
Ignorada.
E em cada passo que dou por
Estas calçadas surradas de sol,
Sinto estar te perseguindo; perseguindo
tuas pegadas em desertos solitários
Povoados de tristezas, se não te fazes presente.
Mas estás presente em tudo que
Faço, que vivo, que sinto.
Aliás, só sei sentir a Ti,
E mais nada! Aderi a Ti, Criatura,
Como se fosses o ar que me violenta
Os pulmões. Tornaste-te um vício!
Necessidade quase vital.
Um fanatismo de minha alma,
A tal ponto que não sei mais
Onde termina a minha vida
Para que comece a tua".

Juliano Cruz
(18/03/2011 – 00:40h)


14 de maio de 2011

Madrugada de Maio...


Quarto Vazio

"De tudo o que tive hoje, de todas as recordações, risos e pessoas que aconteceram neste dia, o que me resta agora é um quarto com a porta trancada, onde me encontro. Não posso dizer que o quarto – meu mundo – esteja vazio. Pelo contrário! Está repleto de uma ausência, de uma falta de algo que me é crucial, porém, me foi roubado antes que eu soubesse o que fosse.
Talvez o vazio que me povoa seja o espaço disso que me foi tirado, roubado, e certamente eu não o acharei jamais, embora eu não deixe de procurar. O quarto trancado, mil lembranças, uma cômoda bagunçada e resquícios do meu dia ainda visíveis sobre os moveis. Entra pela janela entreaberta um vento gélido, que traz à esta madrugada um gosto ocre que se enxerta em meu paladar, e vejo formarem-se no céu nuvens avermelhadas, pois nesta solidão em que me encontro, sinto até a natureza se ressentir, com vontade de chorar por mim as lágrimas que não conseguem vir à tona.
Vazio...vazio...e nada consegue preencher esta ausência, essa falta de um pedaço que me foi abortado, arrancado de modo violento sem...(e a partir daqui, este fragmento começou a falar comigo, e eu descobri que ele estava pronto). (14/05/2011 – 01:11h)"

8 de abril de 2011

Em memória...

Indignação

"É degradante saber que existe naquilo a que chamamos “nós”, algumas criaturas tão vis, tão abjetas, que me sinto, em certo ponto responsável por muitas atrocidades que acontecem por aí. Se um indivíduo, que faz parte do todo, daquilo que se denomina sociedade, é capaz de matar seu semelhante, sinto que de certa forma, uma morte provocada também me pertence.
Só agora consegui digerir um pouco da história terrível que aconteceu no Rio de Janeiro. Foram onze crianças mortas por um atirador, que agiu de modo frio e extremamente violento. Não tenho o direito de julgar a atitude desta criatura que, apesar da barbárie, era um ser humano, semelhante a mim e a qualquer um que lê o que estou escrevendo. Repito: não o julgo! Ele matou pessoas inocentes, é fato, mas quantos também não são mortos por dentro, na sua alma, na sua dignidade, nos seus sonhos com atitudes minhas das quais eu mesmo não me apercebo?
O que quero deixar registrado é a minha indignação. Quando eu digo que não tenho motivação para me relacionar com o ser humano – coisa que trato em terapia, inclusive – as pessoas costumam se escandalizar e acham que sou obrigado, talvez, a ser só sorrisos, quando, na verdade, eu não acho que eu seja obrigado a aceitar a todos indistintamente, até porque, eu sou obrigado a me aceitar e não tenho o que fazer sobre isso.
Quero deixar registrada a minha tristeza em saber que, no caso dessa tragédia, sonhos foram interrompidos, vidas humanas foram abortadas e lhes roubaram a possibilidade de existir, de crescerem, de experimentarem a dor e a delícia da vida, seus amores, suas dores, suas loucuras. É triste saber que abriu-se, não apenas no seio da sociedade, mas na alma dessas mães, pais, amigos e parentes uma ferida que, certamente não há de cicatrizar, já que a saudade fica adormecida, mas sempre acorda para fazer seus estragos.
Fico triste em saber que muitos adolescentes que sobreviveram ao massacre acabam de receber mais um golpe mais ou menos inesperado, repentino da vida, e terão de lutar muito para tentar fazer com que essa história não seja tão nociva para eles. Dói em alguma parte de mim ver crianças sendo violentadas pela tristeza de uma perda.
Enfim, eu sei que dói. Sinto a dor deste terrível episódio. De algum modo, quase místico, me sinto unido às famílias que foram golpeadas por essa realidade sangrenta e ignominiosa e sinto por elas. Peço a Deus que as console, pois a ferida continuará a sangrar, tanto na vida daqueles que foram direta e letalmente atingidos, como na sociedade, que mais uma vez se vê obrigada a engolir tamanho disparate. (Juliano Cruz" – 08/04/2011 – 14:07h)

24 de março de 2011

Pra mim, faz muito sentido...


"Eu compus Kozmic Blues com K, é uma viagem muito desesperada para ser levada a sério, tem que ser como uma piada do Crumb, se não não dá para agüentar. Kozmic Blues quer dizer que não importa o que você faça, não vai ganhar a guerra. Quando eu era criança, as pessoas me diziam que eu era infeliz porque estava na adolescência, mas que um dia tudo ia fica legal. E eu acreditava. Primeiro achava que quando o homem certo aparecesse, seria a hora, depois que quando eu pudesse trepar em paz, depois que se eu conseguisse algum dinheiro, etc. Até que um dia, sentada num bar, entendi de repente que nunca ia acontecer nada, que nunca ia ficar legal, que o tempo todo tem alguma coisa errada, sempre, só muda o problema. Não era um prazo de espera, era toda a minha vida."

Kozmic Blues

Time keeps movin' on,
Friends they turn away.
I keep movin' on
But I never found out why
I keep pushing so hard the dream,
I keep tryin' to make it right
Through another lonely day, whoaa.

Dawn has come at last,
Twenty-five years, honey just in one night, oh yeah.
Well, I'm twenty-five years older now
So I know we can't be right
And I'm no better, baby,
And I can't help you no more
Than I did when just a girl.

Aww, but it don't make no difference, baby, no, no,
And I know that I could always try.
It don't make no difference, baby, yeah,
I better hold it now,
I better need it, yeah,
I better use it till the day I die, whoa.

Don't expect any answers, dear,
For I know that they don't come with age, no, no.
Well, ain't never gonna love you any better, babe.
And I'm never gonna love you right,
So you'd better take it now, right now.

Oh! But it don't make no difference, babe, hey,
And I know that I could always try.
There's a fire inside everyone of us,
You'd better need it now,
I got to hold it, yeah,
I better use it till the day I die.

Don't make no difference, babe, no, no, no,
And it never ever will, hey,
I wanna talk about a little bit of loving, yeah,
I got to hold it, baby,
I'm gonna need it now,
I'm gonna use it, say, aaaah,

Don't make no difference, babe, yeah,
Ah honey, I'd hate to be the one.
I said you're gonna live your life
And you're gonna love your life
Or babe, someday you're gonna have to cry.
Yes indeed, yes indeed, yes indeed,
Ah, baby, yes indeed.

I said you, you're always gonna hurt me,
I said you're always gonna let me down,
I said everywhere, every day, every day
And every way, every way.
Ah honey won't you hold on to what's gonna move.
I said it's gonna disappear when you turn your back.
I said you know it ain't gonna be there
When you wanna reach out and grab on.

Whoa babe,
Whoa babe,
Whoa babe,
Oh but keep truckin' on.
Whoa yeah,
Whoa yeah,
Whoa yeah,
Whoa,
Whoa,
Whoa,
Whoa,
Whoa...

20 de março de 2011

Uma possível tradução...



Como eu não possuo

"Olho em volta de mim. Todos possuem ---
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minhalma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lodo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse --- ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim --- ó ânsia! --- eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases doirados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo".

(Mário de Sá-Carneiro, 1890-1916)

16 de março de 2011

O fim do Verão...


Prenúncio de Outono

E me resta o quarto trancado,
A própria e triste companhia,
E goles dolorosos de verdades da vida.
Nada mais! Sim: apenas o
Vazio iminente desta noite, onde a
Vida tudo me negou de suas delícias.
Quantos nós se me elevam até a garganta!
Quanto a frouxidão do falar se faz sentir...
Eu que só queria reencontrar minha vida
Num abraço cheio de ternura.

Juliano Cruz
(16/03/2011 – 23:19h)

13 de março de 2011

Coisas que podemos concluir num domingo...


"Conclusão

Porque somos essa colcha de retalhos
Poéticos que traduzem a vida.
Justamente!
A alma transcende a carne, os poros.
Tudo se faz uma só tristeza.
Mil sensações debatem-se por
Entre as paredes da mente, e o brilho
De um olhar que me foi negado
Interrompe meu sono numa hora
Qualquer da madrugada. Estou sozinho."

(Juliano Cruz e Isabel Escarmin
13/03/2011 – 12:30h)

5 de março de 2011

No olho do furacão...


"O peso desta noite passou-me dos ombros à alma num átimo de tempo; e o abismo que existe entre mim e minha vida torna-se, a cada dia, mais intangível, tamanha é sua extensão! Vejo minha vida, mas me parece existir um não sei quê que me impede de tocá-la, de dar a ela um rumo diferente por mais que eu me esforce. Sinto invadir meu peito um vazio denso, como se uma saudade sem fim me habitasse; como se o vazio que já me é peculiar tomasse proporções de grandeza infinda, me sinto mergulhar, cada vez mais neste nada, nesta falta de não sei o que, nessa saudade de quem não conheci, de algo que não vivi. É como se faltasse a mim um pedaço do meu próprio ser, como se eu tivesse perdido uma parte importante de mim, um estilhaço, um membro invisível. Sinto-me abortado de mim mesmo! E sinto que a vida continua a ser abortada de mim em cada olha lançado em direção ao espaço vazio do quarto, em cada gota de chuva que se choca com o chão. A vida se esvai de mim. Sempre! E eu não sou capaz de tocá-la, preservá-la. Ela apenas se esvai de mim como num êxtase ao contrário. Eu saio de mim, mas não sei para onde vou; transcendo meu corpo, mas não tenho rumo certo".
(Juliano Cruz - 05/01/2011 - 00:15h)

3 de março de 2011

Novidade Poética...


Descobri hoje, por intermédio da minha grande amiga Maria Isabel, o poeta Abgar Renault. Li esta poesia dele e me identifiquei muito, pois traduz o modo como venho me sentindo há algum tempo. Espero que gostem. É de uma beleza ímpar!

Balada quase metafísica

"Eu estou assim
absolutamente irremediável
por dentro e por fora, acordado ou dormindo
na Duração, no Tempo e no Espaço.

Eu sou assim:
sem cômodo comigo, sem pouso, sem arranjo aqui dentro.
Quero sair, fugir para muito longe de mim.
Todas as portas e janelas estão irrevogavelmente trancadas
na Duração, no Tempo e no Espaço.

Que é que eu vou fazer?
Não fica bem, assim sem mais nem menos, falecer.
Queria rezar, mas eu sou isto, meu Deus!,
e de minha reza, se reza fosse,
não ouvirias uma só palavra.

Tem pena, uma pena bem doída de mim,
meu Deus, e ouve para sempre esta oração,
e ampara isto que sou eu
na Duração, no Tempo e no Espaço".


Abgar Renault
(1901-1995)

18 de fevereiro de 2011

Tansbordando alma pelos poros...


Tua Ausência

"Se soubesses a falta que me fazes,
Não estarias ausente de mim
Desde a última noite.

Se pudesses sentir o vazio que tua ausência
Deixa em meu pobre peito, estarias
Aqui, ao meu lado, enquanto estes
Versos indômitos se precipitam sobre
Este papel de alvura impenetrável.

Ah, o que fizeste comigo, Criatura?
Sinto evanescer qualquer pensamento
Ao menor sinal de tua lembrança!
O desejo por teu abraço me toma de
Assalto às horas mais inusitadas.
Ouço minh´alma bradar por
Teu nome nesta noite vazia de verão...

Medo e prazer se confundem;
Mil sensações se espalham pela
Minha carne que só deseja o
Calor de um teu abraço.

E tento te encontrar em um raio
De luar, numa estrela qualquer,
Numa canção inesperada.
Apenas tua ausência e a sede
Que tenho de ti, se fazem sentir."

Juliano Cruz
14/02/2011 – 23:14h

2 de fevereiro de 2011

Vocação


Chamado

Vocação de ser poeta:
Sentir tudo além do normal e
Transformar tudo em versos, deixando
A alma transbordar, até escorrer pelos
Dedos, e imprimir o ser, a essência, o âmago
A um pedaço ínfimo de papel.


Juliano Cruz (02/02/2011 – 23:29h)

18 de janeiro de 2011

Viagem...


Pois bem, meus nobres, cá estou curtindo as delícias litorâneas na Riviera de São Lourenço! Ah, merecidas férias! Estava à beira de uma estafa. Meu cansaço era tanto que eu mal conseguia pensar, ou mesmo apreender o que eu lia, ou mesmo que eu rezava. Aliás, por mais de um mês, abandonei a oração, e no início deste ano novo, me decidi a recomeçar a vida com Deus. Vou indo, aos pouquinhos, tentando rezar, meditar, mas minha caberça está sempre aos turbilhões.
Quanto às férias na praia, bem...estou me ocupando em não fazer nada. E quanto mais fico sem fazer anda, menos tenho vontade de fazer. Abandonei a neurose do relógio, da vida pré-moldada e fico longas horas na praia, sob o sol (pasmem!)
Na verdade, estou entendendo agora o que significa descanso.
Quando voltar à Araraquara, posto mais coisas. Abraços.

12 de janeiro de 2011

Versos inacabados


Queria encontrar algo legal pra postar, e relendo alguns escritos e poemas, achei estes versos. Eu apenas os iniciei, depois não tive mais inspiração para os continuar e ficou por isso mesmo. Nem nome eles tem...


"Não há perturbação que resista à paz de teu abraço,
Não há noite que persista ante a luz de teus olhos.
Mesmo que você não veja, meus olhos, na multidão,
Procuram pelos teus. Minha carne, em desespero,
Grita pelo teu abraço, teu calor..."(19/06/2010 – 18:44h)

4 de janeiro de 2011

O Conto de 8 nomes possíveis...


Ultimamente, tenho sentido que histórias sem sentido algum têm gritado dentro de minha cabeça. Vou postar, hoje, uma delas, que tem oito nomes possíveis, portanto, cada um pode chamar este pequeno conto bizarro com o nome que achar que se encaixe melhor. Sintam-se à vontade para comentar, criticar ou elogiar.


Clarissa (O Banho, Inocência Roubada, Sonho Morto,
Existência A-nexa, Morte Diária, O Vapor no Fim da Tarde, Verdades Vazias)

"-Ao contrário do que você pensa, não me agrada viver esta vida imunda!
Depois de encerrar a discussão com estas palavras, Clarissa trancou-se no quarto e sentiu uma náusea subir-lhe do estômago à alma, e um certo pavor de vida lhe turvou a visão. Havia gritado tudo o que estava engasgado em sua garganta havia anos, desde que se entendia por gente, e não se sentia aliviada de dizê-lo, já que a vida ainda lhe fazia um peso sem fim sobre os ombros e sobre a alma. Adormeceu.
No fim da tarde, resolveu despir-se da roupa da noite que ainda persistia, bem como o perfume forte que já lhe era peculiar. Antes de tirar a roupa, abriu o chuveiro e seu corpo esguio desejou provar da quentura daquela água que jorrava impetuosa. Observou as marcas da violência recebida de seu cliente que mais aprecia um bárbaro. Já debaixo da água quente, sentiu as dores e as infelicidades de uma vida sempre miserável e cheia de perplexidades. Por fim, sentou-se ao chão, e enquanto os vapores de seu banho lhe lavavam o corpo, as lágrimas que lhe corriam discretas dos olhos lavavam-lhe a alma de todas as atrocidades que a vida lhe havia imposto. Chorou copiosamente e se deu ao luxo de abafar os soluços para que ninguém os pudesse escutar.
Por algum tempo, durante aquele choro vespertino, chegou a sentir nojo de si mesma, mas afinal, era a única oportunidade que a vida lhe oferecera e, para ela, viver estava sendo suficiente, tanto assim que ela mesma não exigia mais anda de si mesma.
Enquanto as lágrimas lhe corriam pela face, lembrou-se saudosa da infância, dos tempos da amarelinha desenhada no asfalto nu, das brincadeiras puras na calçada da casa de sua avó, quanto sua mãe dava voltas pelo mundo. Lembrou-se do primeiro amor, do primeiro beijo...tão cândido!
E sem alegria ou saudade quaisquer, lembrou-se do dia em que morreu pela primeira vez. Nós temos que morrer tantas vezes ao longo de um só dia e para tanta coisa, que já deveríamos estar acostumados à morte. Para tudo é preciso morrer. Nascer é começar um processo de morte; é caminhar lentamente para a plenitude de ser e para a não-existência. E ela se lembrava da primeira morte, aos oito anos, quando teve sua inocência pisada, destruída e seus sonhos de menina mortos, levados ao sabor da enxurrada. Tinha oito anos, mas a partir daquele dia, nunca mais soube o que era a alegria de uma criança, pois aquele homem de olhos negros e nervosos, de camisa imunda, havia roubado o que de mais precioso Clarissa tinha.
Ainda menina, ela morrera num canto qualquer de um terreno baldio, e com ela morreram as esperanças, as alegrias e nunca mais Ela soube o que era uma noite tranqüila de sono. Começou a acordar aos sobressaltos, chorando, e sentia constantemente que havia um nó em sua garganta, e que havia dentro de si um vazio tão grande, violento e intenso, que era quase palpável. Constantemente era vista olhando para longe, como se esperasse vir pela rua estreita uma resposta àquela dor que a devastava. Mas nada!
E nisso começou a aprender que não adianta esperar respostas ou explicações. Nem tudo o que acontece tem uma explicação, e isso a fazia mergulhar mais ainda em uma descrença quase absoluta de tudo quanto havia na vida. Como podia o Deus a quem fora forçada a acreditar não tê-la livrado de ver morrer seu interior todo cheio de vida? E como numa mistura de prazer e agonia, de dor e amor, êxtase e delírio, Clarissa sentiu, mais uma vez, sob a água quente de seu banho, morrer dentro de si mais um pedaço de sua vida. Já haviam roubado dela pedaços tão importantes de si, partes de uma vida que poderia ser tão promissora, que ela já não conseguia mais ver nada em seu caminho a não ser os estilhaços que sobraram pelo chão enquanto ela caminhava.
Simplesmente cansada! Cansada de ver morrer aquilo tudo que ela considerava importante, de ver morrer seus sonhos, suas esperanças, suas alegria...
Buscava também a verdade. Mas não um verdade qualquer. Buscava uma verdade que a pudesse preencher, que trouxesse um pouco de leveza à sua vida conturbada. Mas todas as verdades oferecidas a ela eram insuficientes, cheias de conceitos que já não mais cabiam em seu pensamento fluido (náusea). De tanto ouvir verdades vazias, resolveu acreditar em suas próprias verdades, e isso lhe possibilitou certa leveza, muito embora, o pavor que tinha de viver fosse gritante.
Após chorar sob o chuveiro, sentada àquele chão que lhe era tão conhecido, Clarissa se levanta e vai olhar-se no espelho, o chuveiro ligado. E viu ali não uma garota que vendia prazer aos outros, mas o pálido reflexo de alguém que apenas recebeu duros golpes da vida e nada pôde fazer para se fixar naquilo que chamam lado bom. Olhou-se e chorou um pouco mais. E o vapor a inundar o banheiro". (29/12/2010 – 00:02h)

1 de janeiro de 2011

Regresso...


Depois de meses sem postar absolutamente nada, regresso no primeiro dia de 2011. Não sei o que postar hoje, porque o sono está me consumindo, porém, vou pensar em algo legal pra colocar aqui.
Ultimamente tenho escrito contos (bem medíocres, por sinal) e algumas histórias bem toscas que andam correndo pela minha cabeça. Enfim, a cada coisa que acabo de escrever, me sinto meio morto, como se um pedaço da minha carne fosse abortado de mim. Acho que é bem isso, porque tudo o que escrevo faz parte de mim, e quando eu coloco no papel, já não me pertence mais, é arrancado de mim.
Parece bem estranho, mas é o melhor que posso fazer por enquanto...