21 de julho de 2011

Ah...


Ah...a dor de existir; o peso de (não) sentir!

"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo".
(Fernando Pessoa)

19 de julho de 2011

Onde será que fica o "pause" da vida?


Ausente de mim...
"Às vezes me acontece, e toda vez que me acontece, acontece tão subitamente como se evanesce, de sentir na alma um peso tão grande da vida que minha vontade, se me fosse possível, seria a de me ausentar de mim mesmo e ficar num modo como “em suspenso” por algum tempo para depois poder retornar a mim mesmo.
Hoje é um dia assim. O peso da vida já foi e voltou tantas vezes à minha alma que ao olhar-me no espelho, ainda há pouco, tive a sensação de estar cinza, como a nuvem de poeira que paira sobre a cidade nestes dias estranhos e áridos de inverno, que mais parecem um verão desértico. O ar tornou-se para mim de um amarelo tosco e desbotado, e a respiração ficou difícil, tamanho era o incômodo que a vida me infligia. Nada aconteceu para tal, mas creio que essa seja uma condição sine qua non de viver. Talvez o meu modo de vida, a minha essência esteja fadada a sentir esse peso sempre que a vida se dá ao luxo de o dar a mim.
Sim, realmente o dia está cinzento para mim hoje. Não que os outros dias tenham cores quentes e vivas, mas o cinza de hoje está mais denso, mais nebuloso que o cinza dos outros dias ditos “normais”. Aliás, creio que os dias cinzas sejam normais; os dias cheios de cores são a exceção e muitos, talvez, se enganam ao pensar que estão sendo felizes por...(?)
Na verdade, não tenho a mínima pretensão de dizer a quem quer que seja o que vem a ser a felicidade. Cada um sabe de si e, antes que minha mente resolva questionar-me, já adianto que eu não sei de mim. De mim só sei que não sou, estou sendo. Geralmente à duras penas, respirando a secura deste ar amarelado e espesso, neste mundo que só se faz inospitalidade e solidão.
Não penso que o que escrevo seja uma visão pessimista das coisas. Na verdade, creio que esta é a minha realidade interna e o mínimo que preciso é ser respeitado. Ninguém é obrigado a gostar mas respeito, aqui neste ponto, é fundamental. Não era assim que eu queria que fosse, mas eu também sou obrigado a me aceitar e respeitar". (19/07/2011 – 16:40h)

10 de julho de 2011

A gente se acostuma...


Há alguns dias li este texto por indicação de um conhecido. Achei oportuno postá-lo e compartilhá-lo com quem passar por aqui. É um texto bem reflexivo. Espero que gostem e que ajude a repensar em algumas coisas como me ajudou.

Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma"
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1 de julho de 2011

Dia cinza...


Apêndice

"Há certos dias em minha vida que, se me fosse possível, eu optaria por me desabitar, abandonar meu próprio corpo, minha própria existência e me deixaria num modo como “em suspenso”, tamanho é o incômodo que sinto gritar dentro em mim. Não sei bem como isso se dá, e também pouco me importa, mas é um não sei quê de desassossego, de dor, de morte lenta e dolorosa que se instala no centro da alma e se alastra por todo o corpo sem cerimônia alguma.
Em dias assim, o ar, por mais límpido e puro que seja, me parece de uma cor ocre-amarelada, quase como uma foto antiga, já desbotada pelo tempo. O céu, por mais azul e iluminado, me dá a impressão de estar cinza, com um tom quase mórbido de nebulosidade. Na verdade, sei que – me custa admitir o que segue – quem está cinza não é o céu, e quem está palidamente amarelado não é o ar, mas eu mesmo! É uma dose maciça de verdade, mas sou forçado a dizê-lo para que eu me alivie desta intempérie que se forma quase violentamente dentro de mim.
Sinto em dias assim com mais certeza do que em outros que sou como o apêndice de um livro: com ou sem ele, a história não será alterada. É justamente assim que me sinto! Sou o apêndice da minha própria vida, algo sem muita importância, anexado a ela por sabe-se lá que motivo, se é que existe um motivo para tal. É como se a minha vida já estivesse pronta, acabada e, de repente, eu fosse anexado a ela, ou seja, ela não muda, já estava acabada, concluída e eu fui anexado a ela para simplesmente fazer parte, sem maiores explicações". (01/07/2011 - 14:30h).