26 de outubro de 2011

Para Bille e Charlotte...


Protelando...

"Quando eu tinha sete anos, tive caxumba. Era o final de uma manhã de novembro, e eu estava impossibilitado de fazer muitas coisas por conta daqueles nódulos que se inflamaram no meu pescoço. Estava tristíssimo, pois a vida já havia me negado tudo e me roubado o pouco que restava também. A exaustão já me havia tomado de uma tal maneira que eu comecei a desenhar com lápis colorido num papel qualquer, pra ver se o céu do meu mundo ficava mais azul, ou se o sol ganhava novas cores que valessem a pena. Mas foi no final dessa manhã ensolarada de novembro que minha tia Sandra chegou da faculdade, animadíssima, como se a vida lhe houvesse sorrido com pontos de exclamação.
- O seu Zezinho está no portão da casa dele distribuindo cachorrinhos; Neusa – disse ela à minha mãe, os meninos podem pegar um?
Minha mãe, relutante, acabou permitindo, muito embora dissesse que nós teríamos que cuidar dele. Recomendou que escolhêssemos um macho, senão, nada feito! Enchi-me de uma importância e, como se eu fosse um homem feito, abri o portão e fomos os três – minha tia, meu irmão e eu – rumo à casa onde o evento estava acontecendo. Meu irmão, eu não sei, mas sempre quis ter um bicho e descobri, logo de início, que um cachorro seria essencial à minha felicidade!
Imediatamente, escolhemos o pequeno canino que tinha apenas duas semanas. Caminhamos pela calçada até chegarmos em casa e, em prazo de um quarteirão, cheguei a um ponto do amor quase sombrio, de tão desconhecido que ele me era. Eu mal havia tocado naquele cachorrinho que chorava muito, mas já o amava com um amor quase soberbo, pois sabia que ele seria meu amigo. Ao chegarmos em casa, pegamos uma caixa de papelão, forramos com uma toalha e já fomos providenciar um pires de leite para ele, pois nem sabíamos como se cuidava de um cachorro. Era desengonçado, andava todo torto, mas eu já o amava e sabia que seria meu melhor amigo para sempre, como se eu o conhecesse desde meu nascimento.
O tempo foi passando e eu no fundo, sabia que, algum dia, o Bille iria ter que morrer. Ficou conosco oito anos e tinha cara de lobo; era bravo, latia muito mas nem tinha raça! O que importava? A raça é o de menos quando se tem amor! Quando ele morreu, chorei muito. Senti que ia com ele um pedaço importante de mim; era como se um sonho de felicidade estivesse se estilhaçando ali. Morreu com ele uma parte de mim.
Poucos meses depois, trouxe Charlotte para casa. Já não morávamos mais com minha avó, e eu insisti novamente pela pobre cachorrinha rejeitada pela mãe. Eu a trouxe.
O mais engraçado é que eu sabia, de inicio, que um dia Charlotte também morreria. Entendi no momento em que coloquei o leite pra ela no pires pela primeira vez, que eu estava apenas protelando um sofrimento sem saber por quanto tempo. Sabia que ela teria de morrer e que mais um pedaço de mim morreria junto.
Senti, de súbito, um nó na garganta, uma lágrima rolou de meus olhos. Era julho e fazia frio. Fim de tarde. No final agoniante das contas, vivi treze anos de aflição, protelando o sofrimento que a morte de Charlotte iria, certamente me causar. Dito e feito!
Primeiro a descoberta de uma doença tenebrosa, depois, assistir inerte, impotente a minha amiga fiel definhar lentamente.
No dia em que ela teve que ser morta, olhei-a uma última vez, passei-lhe a mão carinhosamente sobre a cabeça e disse-lhe que estava tomando aquela atitude por não achar justo vê-la sofrer. Ela me olhou nos olhos, como se desejasse me dizer que entendia. Chorei – coisa que eu já estava a fazer há dias – e fui trabalhar, me dando o direito de não presenciar o ato. Era setembro.
Desde então, nunca mais peguei animais para criar e sinto falta deles. Não penso que deixei de protelar certas dores. Muito pelo contrário: tem certas dores que preciso viver, das quais não posso fugir, mas vou protelando ao não querer entrar em contato.
Hoje protelo a dor de me apaixonar, protelo a dor de amar alguém, protelo a dor de me decidir por algo em detrimento de outro.
Penso, na verdade, que só mudam as dores, as circunstâncias, mas está sempre ali. A moldura pode até mudar, mas se a pintura é a mesma, ainda continua sendo o mesmo quadro. Assim é a dor. Pode-se mudar sua moldura, a parede onde se há de pregar o quadro, mas ainda assim, sempre será um quadro. Pode-se mudar a ocasião, o motivo, mas ainda assim, sempre será a dor". (Juliano Cruz – 10/09/2011 – 00:46h)


P.S.: A foto mostra Charlotte nos dias finais de sua vidinha...

11 de outubro de 2011

"Um amigo é a metade de uma alma"

Ao meu amigo
(Para G.)

"Era madrugada qualquer...quase tediosa.
Diante de mim, apenas o computador ligado
E mil quimeras todas sepultadas, sem que
Eu tivesse a chance de tentar o contrário.
Uma conversa se inicia: apresentações, leveza e
Afinidades que iam se atraindo.
O que houve, ao certo?
Não sei e nem pretendo!
Mas sei que a partir de agora
Um novo amigo faz parte de minha história.
Caminha comigo, distante e próximo.
Eu não o conheci nessa madrugada,
Apenas o reconheci, porque era como
Se eu o procurasse, sem saber que ele existia!"

Juliano Cruz
11/10/2011 – 18:21h

P.s>: Não encontrei uma imagem que pudesse falar a respeito de amizade e que coubesse nesse post.