20 de fevereiro de 2012

Sob os escombros...


Há alguns dias, mexendo numa pasta de documentos, achei uma folha de papel onde estava escrito o poema transcrito abaixo. Eu o escrevi numa fase não tão boa da minha vida; fase essa da qual não tenho saudade, mas também não odeio. Acho que estou reconciliado com ela...

Ruínas

"O coração sacudi-se violentamente em meu peito.
E das lágrimas incontidas fez-se um
Silêncio sepulcral, quase imaculado.
Me fiz triste ao perceber que teus
Braços não eram mais meu refúgio,
Nem teus olhos meus repouso, minha paz.
Ah, até quando a vida fará
Questão de maltratar meu peito
Já tão dilacerado pelas dores de sempre?
As esperanças miseráveis que eu construíra
Estão sob os escombros da confusão que
Há em mim...restam apenas ruínas!
Ruínas dos sonhos que se desfizeram;
Das certezas que evaporam sob o sol da primavera;
Do amor que foi só ilusão e me
Matou com suas verdades tétricas".


Juliano Cruz
(04/11/2009 – 21:35h)

15 de fevereiro de 2012

O Nome da Saudade


"Se saudade tem um nome, Amor,
Esse nome é o teu.
Abri a você meu mundo, que
Agora não está vazio, mas
Transbordante de tua ausência.

E tento te encontrar nas ruas
Desertas, roxas do ipê.
Ando pelos bares,
Em meio aos carros velozes
E nada vejo além de tua falta.

Tudo o que há em mim
Grita pelo que há em você;
Meus olhos procuram pelos
Teus olhos. Minha lânguida carne
Grita pelo calor de teu abraço que
A vida faz questão de mo negar".
Juliano Cruz
(09/02/2012 – 13:40h)

13 de fevereiro de 2012

"Todo amor um dia chega ao fim..."


Ontem, meu grande amigo Marcos me indicou um texto de Paulo Mendes Campos acerca do amor e de como ele termina. Achei-o belo e cheio de sentido - pelo menos pra mim - de modo que o posto, agora, para quem o quiser ler.

O Amor Acaba

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba".