7 de dezembro de 2012



Depois de meses sem escrever, volto com um poema que fiz uma noite dessas. Ele não tem nome, mas tem alma.


 
 
Cansei de esperar!
As rosas que deixei sobre a cama
Já feneceram, e estou sem forças
Para me levantar e fechar a cortina.
O sol já invade violentamente este quarto,
E as fotos que restaram já transformaram-se
Em cinzas junto com as poucas lembranças
Que eu fazia questão de salvar dentro de mim.

Amanheci na noite em que te encontrei,
Mas agora, resta-me beber as trevas
Da tua falta que enche cada espaço vazio,
Brota das paredes, mina do chão de carvalho
Como uma fonte de lembranças mortas e saudade.
Mais uma noite insone, mais alguns sonhos desfeitos,
Mortos...
E a sensação terrível de que me roubaram
Tudo o que eu era ao teu lado.

Juliano Cruz
16/11/2012 – 22:36h

25 de junho de 2012

Por que a vida surge de onde menos se imagina...




Ainda há vida

"Quem observasse de longe, julgaria que não mais havia vida ali, naquele corpo já velho. Há algum tempo, andava com dificuldades, apoiando-se numa bengala de madeira pesada que, muitas vezes, se mostrava insuficiente.
Na juventude, fora vaidosa. Sempre de unas esmaltadas, cabelos arrumados, vestidos elegantes, mas com certa sobriedade que davam à ela certa imponência. Da mãe, recebera a herança de uma casa num bairro nobre e os hábitos cristãos. Flertava com os rapazes e com a vida com a petulância de uma criança sem rédeas, porém, não se dava ao luxo de mergulhar numa paixão desmedida, pois acreditara piamente que o amor lhe bateria à porta do coração e lhe faria a vida sorrir com pontos de exclamação. E assim se fez!
Casou-se com o senhor Oliveira, que lhe deixou cedo, quando morreu num desastre. Deixara-a com um casal de filhos a educar. Quanta tristeza! Exausta de solidão, já velha, então, passava os dias diante da televisão. Deixava a porta da sala aberta, sob o pretexto de arejar a casa, que não era mais tão organizada quanto antes, afinal, deu-se ao luxo de deixar sua casa com a cara que achou necessária, mas na verdade, gostava era de reparar nas pessoas que passavam pela rua, os vizinhos que paravam para conversar.
Foi numa noite quente, no fim da primavera, que voltando da igreja acompanhada da filha que se deu o fato extraordinário. Em seu vestido sóbrio de idosa, caminhando com o braço direito apoiado ao braço da filha – companheira fiel – que aquela simpática senhorinha mostrou o resquício de vida que ainda lhe enchia o peito de ar fresco, como uma lufada logo pela manhã. Caminhando pela calçada plana, auxiliando-se de sua bengala, a senhora Ofélia rompeu o silêncio daquela caminhada que, para alguns teria demorado o tempo de toda uma vida:
- O Seu João não passou por aqui hoje! Será que o velhinho está bom? (Silêncio)
E não houve resposta. Certamente, dona Ofélia se contentou magnanimamente com o silêncio eloqüente da filha e calou-se, também, como se a vida lhe fosse estancada ali.
E por um instante, Ofélia deixou transparecer que por debaixo daqueles óculos de grossas lentes, independentemente da velha e tosca bengala e do seu vestido sóbrio, havia ainda um rio de vida a correr caudaloso por seu interior.
As duas mulheres continuaram a caminhar, seguindo seu caminho rumo à casa das portas abertas, onde o cheiro do café impregnava os quartos toda manhã.
Ninguém se dá conta da vida que pulsa feroz em meio ao que, tantas vezes, já perdeu a beleza; ninguém fala nada. Nem mesmo a filha de dona Ofélia disse, porém, vai-se percebendo, ao longo do caminho, que até mesmo sob os escombros de vida que restaram por cima de nós, existe afeto. Sempre existe uma folha verde que cresce entre o concreto acinzentado e que dá, certamente, novo ânimo a quem vê". (Juliano Cruz – 07/12/2011 – 23:54h)


24 de junho de 2012

Não sei ou não me lembro exatamente como o texto que segue chegou em minhas mãos, haja vista que acabeid e reencontrá-lo numa pasta do computador. Porém, achei-o de uma verdade incrível e, por isso, quis postar para que mais gente tenha acesso a ele, muito embora, acho que quase ninguém passe por aqui. Aliás, nem eu tenho passado tanto quanto gostaria/deveria). Espero que apreciem.

Arrebentação - Dialogando com 'Viva a Carambola' de Silva Alves

"Eu não vou mais me apequenar para caber no mundo. Não vou deixar de ir ao baile pela ausência do traje adequado e, lamento, mas daqui pra frente, nada de sorrisos disfarçados. Ah, e tem mais: eu não vou pedir desculpas pela cor dos meus sapatos.
Os meus métodos e a medida dos meus quadris são a minha identidade. Eu não vou mais ser discreta e nem varrer os sonhos pra debaixo do tapete. Eu não sou um currículo e não vou mais me esmagar pra encaixar meu corpo dentro de um uniforme. Eu não nasci de uma forma, de um molde. Eu tenho um nome e quero ser chamada por ele.
Eu não vou mais me acabrunhar. Não vou abrir mão da minha vez, do meu voto, do meu lugar. Nem vou mais refugiar os olhos no breu das pálpebras quando me encaram. Eu quero mais é revidar, me agigantar, reconhecer minha sombra no chão e apreciar a dimensão e a forma que ela toma por onde passo.
Eu não vou mais terminar as coisas com pontos finais, nem vou suspender minhas declarações de amor no fundo falso do céu da minha boca. Não viver me deixa muito cansada. Eu não vou mais pedir licença para existir, nem vou me desculpar pelos meus vícios, pelas roupas que uso ou pela p. da cor que eu escolho para os meus calçados.
A minha essência prevalece abrindo os braços, se espreguiçando, rebentando o mundo com seus centímetros a mais. Eu me recuso a andar pra trás. Lagarta que se transmuta em borboleta não volta pra dentro da caixa; Menino que se infinita em luz, ninguém ofusca; Cigarra que se assume quando canta, vira canção..."

21 de abril de 2012

Tantas lembranças...

Noite chuvosa de sábado, com um bom friozinho (já não era sem tempo), em Araaquara. Tantas lembranças me vieram à memória com a música cuja letra posto abaixo. 

Completamente Blue
 
"Tudo azul, completamente blue.
Vou sorrindo, vou vivendo.

 Logo mais, vou no cinema.
 No escuro, eu choro
 E adoro a cena.
 Sou feliz em Ipanema,
 Encho a cara no Leblon
 Tento ver na tua cara, linda
 O lado bom.

 Como é triste a tua beleza
 Que é beleza em mim também,
 Vem do teu sol que é noturno
 Não machuca e nem faz bem.
 Você chega e sai e some
 E eu te amo assim tão só.
 Tão somente o teu segredo
 E mais uns cem, mais uns cem.
 Tudo azul, tudo azul.
 Completamente blue.
 Tudo azul.

 Como é estranha a natureza
 Morta dos que não têm dor,
 Como é estéril a certeza
 De quem vive sem amor, sem amor.
 Mas tudo azul, tudo azul, tudo azul
 Completamente blue".
(Cazuza) 

 P.S.: A imagem é de um quadro do Picasso, pintado na fase azul. O quadro chama-se A Refeição do Cego.

10 de abril de 2012

Indigência


O que segue é um trecho de um conto que escrevi há alguns dias. Na verdade, iniciei o conto com o escrito abaixo, mas não me senti à vontade para postá-lo na íntegra, posto que eu ainda não o entendo bem. É um mistério. Saí ligeirmente do hábito de colocar data e hora, mas lembro-me que foi numa madrugada de domingo par segunda-feira, ouvindo uma chuva quase violenta chocar-se contra minha janela.

"...estou relutante quanto a escrever o que se passa em minha mente nesta hora. Não sei bem como isso se dará, ou mesmo se realmente tenho coragem de expor o que tem tomado forma e se debatido há alguns dias dentro de mim, pois escrever, muitas vezes, ou mesmo dizer algo, é também se expor à uma realidade tão gritante e tão silenciosa em nós que chega a dar medo. Estou receoso.
De qualquer modo, penso ser melhor começar assim, falando acerca de como me sinto, como um preâmbulo, uma introdução, do que simplesmente começar a descrever o que se passa, até porque, sinto como se a “coisa” em mim ainda não tivesse forma definida, de modo que até penso que seja cedo para tentar fazer nascer este “filho” de minhas entranhas. Não o quero nascido a ferro; quero retirá-lo das minhas vísceras e da minha alma de modo natural, porém, temo que posso deixá-lo morrer e afogar-se em si mesmo se não tomar a atitude drástica de trazê-lo à tona. Na verdade, só de pensar na dor que o que segue poderá causar-me, sinto o estômago contrair-se dentro em mim como numa indigestão, até porque é indigesto para mim, como a vida tem sido desde que me entendo por gente. Sou gente? O que leva alguém a julgar-se pessoa, a julgar-se humano? O que é um humano? Como existir nisso que se denomina vida e ser um humano? São tantas dúvidas e nenhuma resposta. O que hoje se faz pergunta, amanhã já nem existe, pois o que se pergunta hoje é respondido amanhã, e a pergunta do presente torna-se, já, passado.
Estou protelando o nascimento. Sinto que agora já é hora. Está pronto; tomou forma e já começa a nascer pelas pontas dos meus dedos". (...)

P.S.: O conto se chama Vulto de Humanidade.

14 de março de 2012

Vivas à Poesia!


Com o intento de homenagear o dia da Poesia, vamos nos emocionar com um poema daquele que escreveu os versos mais perfeitos da Língua Francesa: Arthur Rimbaud (1854-1891).

A ETERNIDADE

"De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai".

20 de fevereiro de 2012

Sob os escombros...


Há alguns dias, mexendo numa pasta de documentos, achei uma folha de papel onde estava escrito o poema transcrito abaixo. Eu o escrevi numa fase não tão boa da minha vida; fase essa da qual não tenho saudade, mas também não odeio. Acho que estou reconciliado com ela...

Ruínas

"O coração sacudi-se violentamente em meu peito.
E das lágrimas incontidas fez-se um
Silêncio sepulcral, quase imaculado.
Me fiz triste ao perceber que teus
Braços não eram mais meu refúgio,
Nem teus olhos meus repouso, minha paz.
Ah, até quando a vida fará
Questão de maltratar meu peito
Já tão dilacerado pelas dores de sempre?
As esperanças miseráveis que eu construíra
Estão sob os escombros da confusão que
Há em mim...restam apenas ruínas!
Ruínas dos sonhos que se desfizeram;
Das certezas que evaporam sob o sol da primavera;
Do amor que foi só ilusão e me
Matou com suas verdades tétricas".


Juliano Cruz
(04/11/2009 – 21:35h)

15 de fevereiro de 2012

O Nome da Saudade


"Se saudade tem um nome, Amor,
Esse nome é o teu.
Abri a você meu mundo, que
Agora não está vazio, mas
Transbordante de tua ausência.

E tento te encontrar nas ruas
Desertas, roxas do ipê.
Ando pelos bares,
Em meio aos carros velozes
E nada vejo além de tua falta.

Tudo o que há em mim
Grita pelo que há em você;
Meus olhos procuram pelos
Teus olhos. Minha lânguida carne
Grita pelo calor de teu abraço que
A vida faz questão de mo negar".
Juliano Cruz
(09/02/2012 – 13:40h)

13 de fevereiro de 2012

"Todo amor um dia chega ao fim..."


Ontem, meu grande amigo Marcos me indicou um texto de Paulo Mendes Campos acerca do amor e de como ele termina. Achei-o belo e cheio de sentido - pelo menos pra mim - de modo que o posto, agora, para quem o quiser ler.

O Amor Acaba

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba".

31 de janeiro de 2012

Divagações de um insano...


"Às vezes, tenho a impressão de estar vivendo uma vida que não é minha. É estranho até pra mim mesmo, mas preciso dizer que tenho a impressão de observar minha vida do lado de fora dela, de modo que me parece ter sido lançado nela, que já estava pronta, pré-moldada. É como se eu fosse acompanhando cada episódio dessa vida através de um vidro consideravelmente grosso, que me impede de tocá-la e tomar suas rédeas às mãos.
Me sinto estranho. Me sinto um estranho em mim mesmo. Há dias em que olho-me no espelho – quando consigo olhar – e tenho a impressão de não me conhecer, não saber quem sou. Às vezes, chego a esboçar um diálogo com a imagem, mas logo se evanesce...não consigo mais falar, pensar ou ter qualquer outra ação diante do que, supostamente, sou eu.
Queria ter a fortuna de me decifrar, de descobrir o que, realmente existe em mim que não está em consonância com o restante e que me faz enxergar a vida tão cinza, tão insípida...desisti de tentar chorar, de tentar ser amado. Desisti de tanto que já não sei se é uma desistência ou uma preservação de mais desgastes, posto que tudo em mim tem um peso maior do que o comum.
E meus olhos oceânicos já não disfarçam mais o desgosto; meus ouvidos já negam a ouvir tantas mentiras disfarçadas de verdade e minha alma, apesar da secura dos olhos, derrama-se úmida de tanta tristeza. Sim! Os olhos estão secos, mas por dentro, a alma – que transcende os poros – está úmida de tristeza e chora em silêncio, quando espero todos irem dormir e apago a luz do quarto...(31/01/2012 – 22:07h)".