30 de maio de 2011

Porque sempre há separações a acontecer...


Soneto de Separação

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente".


(Vinicius de Morais)

29 de maio de 2011

Felicidade Abortada


A gente, ao longo da vida, descobre tanta coisa...às vezes, tenho a impressão de que a única coisa que a vida vai me oferecer são seus duros golpes, que vão apenas me fazendo perceber o quão nefasto é existir! Mundo inóspito! Quase incongruente.
E nesta noite, mais uma decepção, mais uma possibilidade de felicidade que me foi abortada sem quaisquer explicações. Acho que eu já devia estar ahbituado a isso e nem esperar mais das situações, da vida, por que tudo, hoje, se fez desilusão.

"Dentre as várias descobertas
Que fiz nesta vida funesta,
Uma das piores que fiz,
Ainda há pouco e que me
Soou como um duro golpe:
A possibilidade de felicidade é
Apenas a ilusão que
Habita entre dois momentos de puro vazio!"

Juliano Cruz
29/05/2011 – 00:33h

24 de maio de 2011

29...


"Com grande grau de trepidação, cheguei ontem aos meus 29 anos! Olha só...eu que nunca sonhei em sobreviver por tanto tempo, estou a um mísero passo de completar três décadas.
29, vinte e nove, XXIX...nossa como é meio assustador chegar a isso. Parece que foi ontem que eu entrava, sendo carregado no colo de alguém pelo corredor da casa da minha avó, berrando com um espinho no pé m(essa é uma das primeiras lembranças que tenho da minha vida). Parece que foi há tão pouco tempo que brincávamos de esconde-esconde dentro de casa, que ficávamos até tarde da noite na rua, brincando, nos tórridos verões de Araraquara. Nem parece que faz tempo que saí de casa para viver uma experiência na Toca de Assis e depois no seminário em Osasco...
Quase trinta anos! Que medo em dá do que vai acontecer, do que me espera, de quem vou encontrar. Sempre pensei que eu fosse morrer jovenzinho, aliás, durante um tempo,a te desejei que isso acontecesse, mas hoje, parece que estou resignado com o fato de eu, possivelmente, envelhecer.
Que itinerário louco, nada linear nesse tempo todo. Já ganhei, já perdi (mais o segundo que o primeiro), já ri e já chorei, já amei e não fui correspondido, já sofri em silêncio, já esperei o que nunca chegou. Aliás, eu espero respostas, mas elas nunca chegam, mesmo que eu vá atrás delas.
Quando bateu meia-noite do dia 23 (faço aniversário em 23 de maio), alguém me perguntou o que me faltava na vida. Parei por um instante para pensar na resposta. Na verdade, a resposta foi mais pra mim mesmo do que para quem me perguntou. Respondi que não sabia o que me faltava, MS sentia que me faltava algo (para quem acompanha o que escrevo e digo, isso nem é novidade). É como a história da terceira perna, que Clarice Lispector magistralmente narra no livro A Paixão Segundo G.H.
No fim das contas, não tive grandes diversões no dia em que, segundo dizem, é meu. Nada fora do normal, para uma segunda-feira. Acordei, fiz minha oração, coloquei roupa na máquina de lavar, fui a um dos meus estágios no asilo, fui pra aula à noite. Tudo dentro dos conformes, até porquê, não gosto de comemorar aniversários.
Só fico pensando se estou vivendo em vão esses anos todos. Sinto que preciso fazer algo de útil para o mundo, tanto para o meu mundo como para o mundo das pessoas. Me questiono se estou deixando uma marca positiva na vida das pessoas, na vida daqueles que estão perto de mim.
Enfim...cheguei aos 29 anos. Como diz a música que a Bel em enviou: “saia da frente com o seu sorriso, pois eu quero passar com a minha dor”. Não sei onde dói, mas está doendo desde que me conheço por gente. Muito antes de eu completar os 29..." (Juliano Cruz - 24/05/2011 - 15:54h)

20 de maio de 2011

O mundo do Misantropo


Uma das frases de Clarice Lispector que traduz muita coisa em mim, diz o seguinte:
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...ou toca, ou não toca".

Desse modo, ofereço hoje uma fatia do meu universo, para que, quem desejar, possa tocar, entrar em contato.
Ficou um poeminha bem tosco, mas enfim...

Universo (Meu Mundo)

"Quarto sem luz, música alta,
Livros espalhados,
Poemas inacabados,
Chuva batendo na janela!

Amor fracassado,
Solidão danada.
Ônibus lotado,
Terapeuta atrasada!

Família reunida,
Falando de vida.
CDs desorganizados,
Relatórios espalhados.

Dias nublados
Manhãs acinzentadas,
Evangelho rezado,
Relógio parado!

Celular que se cala,
Interfone enguiçado.
Deus que não fala,
Homem que chora".

Juliano Cruz
20/05/2011 – 18:56h


P.S.: A imagem trata-se do vulcão havaiano Kilauea.

19 de maio de 2011

A que ponto chegamos!




Fanatismo

"Tu me habitas!
Desde que surgiste, qual raio
De sol em minha vida,
Habitas-me...
De tal modo que em tudo
Vejo-te e sinto tua presença
Ainda desconhecida, quase
Ignorada.
E em cada passo que dou por
Estas calçadas surradas de sol,
Sinto estar te perseguindo; perseguindo
tuas pegadas em desertos solitários
Povoados de tristezas, se não te fazes presente.
Mas estás presente em tudo que
Faço, que vivo, que sinto.
Aliás, só sei sentir a Ti,
E mais nada! Aderi a Ti, Criatura,
Como se fosses o ar que me violenta
Os pulmões. Tornaste-te um vício!
Necessidade quase vital.
Um fanatismo de minha alma,
A tal ponto que não sei mais
Onde termina a minha vida
Para que comece a tua".

Juliano Cruz
(18/03/2011 – 00:40h)


14 de maio de 2011

Madrugada de Maio...


Quarto Vazio

"De tudo o que tive hoje, de todas as recordações, risos e pessoas que aconteceram neste dia, o que me resta agora é um quarto com a porta trancada, onde me encontro. Não posso dizer que o quarto – meu mundo – esteja vazio. Pelo contrário! Está repleto de uma ausência, de uma falta de algo que me é crucial, porém, me foi roubado antes que eu soubesse o que fosse.
Talvez o vazio que me povoa seja o espaço disso que me foi tirado, roubado, e certamente eu não o acharei jamais, embora eu não deixe de procurar. O quarto trancado, mil lembranças, uma cômoda bagunçada e resquícios do meu dia ainda visíveis sobre os moveis. Entra pela janela entreaberta um vento gélido, que traz à esta madrugada um gosto ocre que se enxerta em meu paladar, e vejo formarem-se no céu nuvens avermelhadas, pois nesta solidão em que me encontro, sinto até a natureza se ressentir, com vontade de chorar por mim as lágrimas que não conseguem vir à tona.
Vazio...vazio...e nada consegue preencher esta ausência, essa falta de um pedaço que me foi abortado, arrancado de modo violento sem...(e a partir daqui, este fragmento começou a falar comigo, e eu descobri que ele estava pronto). (14/05/2011 – 01:11h)"