29 de maio de 2010

Bilac...


In Extremis
"Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
E arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...

Eu, com o frio a crescer no coração, — tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!"

27 de maio de 2010

Fragmento


Meus nobres, perdoem minha ausência! Semana de provas na faculdade é isso: correria, noites mal dormidas, estresse e altas crises de riso ao constatar que ficamos aquém do esperado em nosso desempenho! Histeria? Talvez. Depois de fazer duas provas, o mínimo que posso fazer é ficar histérico!
E pela graça de Deus, chegou o frio! Como gosto de dias gélidos, com o vento cortando o rosto e os raios pálidos de sol surrando o piso ao entrarem pelas vidraças! Não nasci para o verão, para o sol.
Já dá pra sentir aquele sabor de tarde de inverno. Não sei explicar como isso se dá, mas, mesmo no verão, muitas vezes meu peito é invadido por esse sentimento. É devastador, porém, não posso dizer que não gosto.



"Olho para trás...O que será que eu poderia ter feito? Talvez deixar uma marca positiva na vida de alguém, ter olhado com mais humanidade para alguém que cruzou meu caminho na rua, ter dito que amava os meus mais vezes e demonstrado isso.
Eu não sei...Parece-me que a vida vai passando cada vez mais rápido e eu não tenho mais tempo de fazer as coisas que sempre julguei importantes. Não consigo mais parar de correr contra os ponteiros do relógio, que, quando não correm velozes, arrastam-se tão lentamente que tenho a impressão de estar agonizando.
Sinto minha vida fragmentar-se, desprender-se de mim a cada segundo, a cada movimento, a cada pulsar desse meu velho e desiludido coração. Vida: paradoxo! Quando penso que alcancei tudo o que poderia me satisfazer, vejo que a efemeridade não me permite tal coisa. Passa-se o tempo, passa-se a vida, e vou percebendo que nada é capaz de abrandar essa dor, esse vazio, esse caos que existe em mim, que me assola e devasta, como um turbilhão que me invade, cheio de lembranças, como recortes antigos.
Não tenho idéia do motivo pelo qual estou escrevendo, mas como sempre sou obrigado a dizer que essas palavras que escorrem de minha alma para meus dedos me trazem alívio. Confidenciar o que sinto a esta folha me faz bem, me deixa menos inquieto, me dá a sensação de liberdade que tanto gosto. Escrever significa que este pedaço de papel não vai me julgar, me rotular, me dizer o que supostamente é certo". (Juliano Cruz - 09/07/2008 - 01:07h)

24 de maio de 2010

Ah...o amor e suas catástrofes!


"O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas." (Pablo Neruda)

18 de maio de 2010


Flagelo

Queima dentro em mim uma chama
Que não sei de onde vem, nem
Por que se acendeu.
Arde em meu peito uma saudade viva,
Que chega a ser contundente. Flagelo.
Jaz em minh´alma este amor que,
Inconcebível, me maltrata e
Se espalha por todo meu ser.

Noite primaveril silenciosa,
Certezas que se desfazem em
Meio a um vento gélido, quase mortal;
E o silêncio sepulcral que se espalha
Por todo meu pobre peito,
Enquanto vejo, sem ação,
Meus castelos de areia se
Dissolverem diante de meus olhos lacrimosos,
Já mortos de esperar sem nada mudar.

Juliano Cruz
13/10/2009 – 00:09h

17 de maio de 2010

Um não sei que de desassossego


Um fragmento escrito por mim em uma de minhas noites em claro:

Desarranjo

"Mais uma noite insone. Ah, esta insônia que me persegue há tempos! Aproveito essa hora pra escrever, para contemplar o silêncio que jaz na madrugada, pra tentar colocar pra fora as coisas que sinto, que gostaria de sentir e as coisas que, sequer, sei sentir.
Ultimamente ando a procurar algo que nem sei o que é, na verdade. Olho para a minha vida e vejo que tenho tudo o que é necessário para sobreviver, mas falta-me ainda uma coisa, e eu não sei o que é. Estou procurando, procurando, procurando...Acredito muito em Deus, sei que Ele está comigo, tenho minha família, tenho amigos: poucos, porém fiéis; tenho a minha profissão, tenho um amor – ainda que platônico, mas tenho. O que será que me falta?
Sinto uma necessidade estranha de viver num abraço. Amo ser abraçado, e parece-me que a cada dia que fico sem um abraço sou capaz de morrer, me sinto desprotegido, inseguro. O que me falta? Que eu gosto da tristeza e da morbidez, já assumi. Que não suporto ser feliz por muito tempo, que creio que minha vida não anda, isso também todos já sabem.
Ah, como tenho saudades! Saudades de nem sei quem, de algo que não vivi, de alguém que não conheci. Saudade de um tempo em que as coisas pareciam mais simples, de um tempo onde eu acreditava ser possível a idéia de felicidade. Quantas coisas eu queria reviver.
Momentos que foram rápidos, efêmeros, mas deixaram marcas fabulosas em mim. Ao mesmo tempo, quero extinguir de mim as sombras que, constantemente, vem me assombrar. É como se houvesse um abismo intangível entre mim e a felicidade. Não acredito em felicidade desde muito tempo, quer dizer, acredito na felicidade dos outros, pois os vejo sempre conseguindo seus intentos, comigo, tenho a impressão de que a vida sempre faz questão de me apunhalar, e é justamente nesse ponto onde sinto que estou em desarranjo com a vida e com tudo o que ela encerra.
Já escrevi tanto, já pensei tanto, já chorei tanto, já idealizei tanto que não sei mais o que fazer, que rumo tomar. Meus gritos mudos tornam-se cada vais mais agudos, mais latentes e a dor que há em mim torna-se a cada hora pior. Dói viver, dói tentar ser feliz, dói querer ser amado, dói amar, dói ser Juliano! Dói ser sozinho, me sentir só, andar só em meio à multidão. Dói pensar que minha vida não é um pôr-do-sol dourado no horizonte.
Outro dia, numa cinzenta manhã de verão, acordei com a estranha sensação de ter perdido alguma coisa importante. Era como se algo houvesse morrido repentinamente em mim e eu só estivesse me dando conta naquela hora, ao acordar. O que seria? Até hoje tenho essa sensação, e não sei o que perdi pelo caminho. Apenas sei que o espaço que isso ocupava, só ajudou a aumentar o vazio e a angústia que desde há muito são latentes em mim".

16 de maio de 2010

É tanta coisa que nem sei...


"O mundo é um clichê. E pior, muito pior será o dia em que colocarem essas flores falsas sobre a minha sepultura"!

Rosas de Vidro

Arranco estes versos de alguma
Parte obscura de minha alma!
O que não posso gritar aos
Quatro ventos, escrevo nestas
Linhas inexatas, como se meu
Lamento escorresse pelas pontas dos
Meus dedos trêmulos de tanta apatia!

Minhas rimas medíocres se tornam
A cada dia vazias e descoloridas,
Como um filme em branco e preto
Sem começo, meio ou fim!
Essas flores que hoje balançam
Ao sabor do vento de inverno...
Ah, este inverno que me devasta!

Sem um abraço, sem um sorriso,
Apenas lágrimas que irrompem
Impetuosas de meus olhos castanhos
Já habituados e cansados de pranto.

E os gritos mudos ecoam em minha
Alma dilacerada por tua ausência,
Pela falta que me faz teu abraço,
Tua calma, tua respiração, te ver dormir...
Fragmentos de minha vida se unem
À lembranças infantis de tua presença.
Vou caminhando entre espinhos!
Entre rosas de vidro, ilusões e saudade.
Onde o nada se faz palpável!

Juliano Cruz
18/07/2009 – 18:53h

13 de maio de 2010

Inabitado!


"Não sei o que anda acontecendo comigo. Que eu vivo angustiado, sempre inquieto, não é novidade pra ninguém. Mas faz já alguns dias que estou mais angustiado do que o costumeiro.
Há alguns dias, percebi em mim uma sensação terrível de estar sem chão, sem apoio, num abandono terrível. Era como se eu estivesse passando pela vida sem ser notado por ninguém, sem que as pessoas me vissem. E assim permaneço até então. A impressão que eu tenho é de que sou um estranho até para mim mesmo. Não me conheço mais, me sinto sozinho, me sinto preso, oprimido por um não sei que de solidão! Resumindo, me sinto inabitado!
Sim, é como se eu não estivesse em mim, como se eu tivesse indo ido embora de mim mesmo. Não consigo me concentrar, não tenho inspiração para escrever, para estudar, para ouvir música. Parece-me, em certos momentos, que a vida que havia em mim estancou-se em algum momento sem que eu percebesse, sem que eu tivesse tempo para fazer qualquer coisa. Nada tem feito efeito para aliviar isso: nem a música, nem a oração, nem nada.
Ao mesmo tempo, me intriga muito o fato de as pessoas me terem como uma referência. A quantidade de gente que me liga, que me procura para pedir oração, conselhos ou simplesmente partilhar a vida (e as pessoas partilham comigo mesmo sem me conhecerem) é impressionante. Há dias em que preciso desligar o telefone para ter um pouco de silêncio. Mas, em seguida o silêncio já me é insuportável. Creio que a quietude é uma coisa para a qual meu espírito não foi condicionado. Mesmo que externamente eu esteja quieto, taciturno, calado, por dentro, minha mente e minha alma estão aos turbilhões, e isso acaba em machucando, nem sei porquê. E dói! Dói tanto que, muitas vezes na vida já pensei em provocar uma dor no corpo para ver se a da alma era amenizada...
Não sei o que fazer. Queria apenas que alguém me abraçasse. Não precisaria dizer nada. Me contentaria com o abraço (nó na garganta!). (13/05/2010 – 17:17h)"

7 de maio de 2010

Essa Aline...


Os Corações de Aline

Nada mais importava! Nem os problemas da noite, nem os perfumes de outono. Nada!
Ela tinha o desejo de espalhar o amor. Tinha o desejo de amar as pessoas de tal modo que não suportava a idéia de ter que partilhar seus amados com quem quer que seja. Quase se alimentava da presença de quem se aproximava.
De tanto amos que tinha em si, resolveu, de modo simples, num gesto sereno e cheio de uma leveza insustentável, espalhar o calor ardente que lhe abrasava ternamente o peito.
Tirou de uma folha toda cheia de tons rosados. Olhou-a fixamente, como se vislumbrasse ali todas as boas intenções do coração humano, ou o isso puro e incontido das crianças que ela tanto desejava abraçar e apertar contra o peito.
E com um brilho inocente nos olhos e um sorriso cheio de candura, habilmente dobrou a folha uma vez. E mais outra, e outras mais. Aquela folha rosada foi tomando forma. Uma forma inusitada, porém cheia de significado, de “sins” e de nãos, de lágrimas e sorrisos.
Repentinamente, sem que eu me desse conta, depositou aquela folha sobre minha mesa. E contemplei por um breve instante aquele coração de papel, e descobri que não era apenas um papel qualquer que era depositado sobre a brancura pálida de minha carteia, numa sala de faculdade.
O que Aline colocou sobre minha carteira e sobre a minha vida, minha alma, era a amizade cândida que ela me tinha; o amor incondicional que ela me devotava.
Eu, por minha vez, acolhi não apenas o coraçãozinho de papel. Fui alem, e acolhi todas as coisas de Aline, seu mundo, sua vida, que já faziam parte, também da minha vida.


Juliano Cruz
24/03/2010 – 20:48h

6 de maio de 2010

Cicatrizes


"If you don´t believe there´s a price
to this sweet paradaise,
just remind me to show you the scars" (Dylan)


Há dias em que, por causa de uma coisa ínfima, vem à tona tudo o que parecia estar assentado, quieto, dormente. Daí, percebo que, no mais secreto de mim mesmo, onde eu pensava existir um doce paraíso, não há nada mais que uma dor que se eleva de minha alma como um grito mudo.
Não sei porque estou escrevendo isso, mas me veio à alma e precisei expor.
Há quem diga que as cicatrizes são marcas de vitórias, troféus. Aparentemente pode ser. Mas dentro de mim? Só Deus sabe!

2 de maio de 2010

As paredes brancas...


"Porque as paredes não deixarão de sê-lo se eu não estiver mais aqui. O chão não vai perder sua essência se eu não mais assentar meus pés sobre ele, e o ar não vai parar de mover-se se eu não mais respirar. E nisso vejo a efemeridade desta vida! As coisas não deixam de ser elas mesmas pela minha ausência. Eu posso parar de existir, mas as coisas todas ainda serão. Acho que, para morrer, eu tenho que ser completo, e é só quando eu for completo que poderei morrer. Antes disso, não. Me nego!
Mesmo as paredes ou o chão não sabendo de minha existência, eles fazem, de alguma maneira, parte de mim, do meu universo. Talvez minha vida não fosse a mesma se não fossem essas paredes que, de tão brancas, parecem pálidas! Acho-as, às vezes, brancas demais. Chegam, em alguns momentos, a irritar-me, haja visto que são inexpressivas e me lembram o nada, que tanto me assola! É como se essa brancura mórbida me sufocasse, me fizesse perder o rumo da minha própria vida. Não sei!" (Verão de 2010)