5 de março de 2011

No olho do furacão...


"O peso desta noite passou-me dos ombros à alma num átimo de tempo; e o abismo que existe entre mim e minha vida torna-se, a cada dia, mais intangível, tamanha é sua extensão! Vejo minha vida, mas me parece existir um não sei quê que me impede de tocá-la, de dar a ela um rumo diferente por mais que eu me esforce. Sinto invadir meu peito um vazio denso, como se uma saudade sem fim me habitasse; como se o vazio que já me é peculiar tomasse proporções de grandeza infinda, me sinto mergulhar, cada vez mais neste nada, nesta falta de não sei o que, nessa saudade de quem não conheci, de algo que não vivi. É como se faltasse a mim um pedaço do meu próprio ser, como se eu tivesse perdido uma parte importante de mim, um estilhaço, um membro invisível. Sinto-me abortado de mim mesmo! E sinto que a vida continua a ser abortada de mim em cada olha lançado em direção ao espaço vazio do quarto, em cada gota de chuva que se choca com o chão. A vida se esvai de mim. Sempre! E eu não sou capaz de tocá-la, preservá-la. Ela apenas se esvai de mim como num êxtase ao contrário. Eu saio de mim, mas não sei para onde vou; transcendo meu corpo, mas não tenho rumo certo".
(Juliano Cruz - 05/01/2011 - 00:15h)

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