27 de agosto de 2011

Quase uma certeza...


"Não sei o que vi nos teus olhos
Que em outros olhos não vi.
E me senti completo ao me ver
Refletido em tuas pupilas, Amor.
M as já agora, não sei o que há,
Que não consigo mais me encontrar
Em teus profundos olhos de mar.
Outras coisas, agora, compões
Teu olhar; outras direções
São alvo do teu querer.
Sinto já não mais haver
Espaço para mim na doçura
Dos teus olhos inquietos.
Vou retirar meu olhar do teu,
E procurar um olhar onde
O meu possa se perder
E aí descansar".

Juliano Cruz
26/08/2011 – 23:59h

22 de agosto de 2011

O óbvio precisa ser dito!


A Gente Se Acostuma

"A vida, segundo penso, não deveria ser vivida do jeito que se vive. Existe tanta coisa genuína para nos satisfazer o espírito, mas nossa visão se entorpece por aquilo que é efêmero, que se liquefaz com avidez e muita facilidade; por aquilo que se evanesce num piscar de olhos. Acabamos por nos acostumar Ao que é fútil, ao que é rápido, sem valor, e esquecemos de prestar atenção às mínimas coisas que podem compor a nossa tão almejada felicidade. Não reparamos mais nos gestos simples, nos momentos únicos ao lado de quem a gente ama; não sabemos mais apreciar uma boa conversa, ou mesmo nos deleitar na leitura de um bom livro. Tudo é pra ontem, tudo exige rapidez; tudo é urgente, tudo tem que estar dentro do tempo.
A gente se acostuma. Não devia, mas se acostuma a viver sob a pressão dos ponteiros que correm não mais velozes, pois o tempo continua seu curso normal, nós é que assumimos coisas demais, responsabilidades demais, preferindo anular a nossa vida, os nossos relacionamentos em prol de uma realização que costuma ser tão rasa, tão tênue que não altera quase nada em nossa vida. A gente se acostuma à idéia de que ser feliz é ter tudo, é não sofrer com as negações da vida. A gente se acostuma a ver incutirem em nossos filhos a idéia mentirosa de que a vida é sempre um pôr-do-sol dourado no horizonte, e tira deles a responsabilidade pelos próprios atos. A gente se acostuma a permitir que entupam o cérebro de nossas crianças com tudo que existe de fútil e banal. A gente não devia, mas se acostuma.
A gente se acostuma a achar que o padrão imposto por não sei quem é o que se deve seguir. Que é necessário ter um corpo esculturalmente musculoso, definido, todo de acordo com os corpos que a internet e a televisão vomitam em nossos lares. A gente se acostuma a ver as violências morais, psicológicas e físicas e não faz nada, porque perdeu-se a capacidade de compaixão; a gente nãos abe mais se compadecer porquê acha que ninguém é digno de pena, de dó, de compaixão. A gente se acostuma a ver a gastar dinheiro com tanta coisa, com tanta bobagem e a reclamar que a vida está difícil, que o dinheiro não dá.
A gente não devia, mas se acostuma a investir em relacionamentos sem futuro, que vão nos machucar, previsivelmente. A gente se acostuma a investir em pessoas que não darão a reciprocidade necessária, que não optarão por nós como optamos por eles. A gente se acostuma a dar amor a quem não o merece, a dar atenção a quem não a fez por merecer. A gente se acostuma a anular os sonhos, a varrê-los pra debaixo do tapete pra realizar o sonho do outro, pra angariar a afeição do outro, enquanto o outro não pensa em aniquilar a si próprio por nós. A gente se acostuma a esperar demais das pessoas; se acostuma às decepções que isso traz. Se acostuma a ser apunhalado, a sofrer calado, a amar em silêncio, a calar a nossa voz, a não dizer nada, a viver miseravelmente uma vida que não precisaria ser assim em nome de uma fé, de uma boa educação que nada tem a ver.
Infelizmente, a gente se acostuma. Não deveria, mas se acostuma a não mais abrir a janela, a não mais sorrir, a não mais conversar com as pessoas. A gente vive o nosso mundinho, com nossos fones de ouvido, com nossos celulares, com nossa luz artificial, com nossos deliverys e fast-food. A gente se acostuma a preservar tanto a individualidade que as relações reais estão agonizando, definhando em nome de uma popularidade medíocre numa rede social. A gente se acostuma à felicidade de balada, de um dia de sol, e acha que a vida é só isso. A gente já se acostumou a não ler, a não se envolver, a calar nossa voz. E vamos morrendo aos poucos, afundados nesse mar revolto que é a vida, porque não somos capazes de nos acostumar à idéia da morte".
(Juliano Cruz - 22/08/2011 - 00:15h)

19 de agosto de 2011

Náusea matutina...


Após praticamente um mês sem escrever e sem postar nada devido à grande falta de tempo e inspiração, volto a partilhar com vocês um poemazinho bem medíocre que acaba de ser escrito. Sintam-se à vontade para dizer que é muito, mas muito ruim!

Espelho

"Olhei furtivamente minha imagem
Refletida no espelho do banheiro
Das paredes impecavelmente brancas.
Não me reconheci: era um estranho
Diante de mim, porquê não sou eu mesmo,
Mas sou possuído por muitos,
Que tantas vezes nem nomes possuem.
Não sei se o que vi refletido era a verdade,
Mas para mim, nesta manhã insólita,
O que menos importava era saber
Se era a verdade pura e simples,
Ou uma verdade inventada".
Juliano Cruz
19/08/2011 – 00:00h