20 de abril de 2010

Lágrimas e chuva


Uma vez, fiquei agradecido quando, na rua, fui surpreendido por uma chuva de verão. Estava andando, com uma vontade terrível de chorar. Me sentia sozinho, pequeno, sem a mínima noção do que fazer da minha vida, que, aliás, nunca foi um rio de águas calmas, e o vazio estava me dilacerando o peito. Eu estava andando por uma rua qualquer do centro da cidade quando, repentino, o céu desfez-se em água sobre a minha cabeça. Molhado, com os pés encharcados – e eu acabava de me recuperar de uma gripe – e sem ninguém para me acolher, me abraçar, me olhar nos olhos e colocar a mão no meu ombro, eu chorei, na rua mesmo. Chorei porque descobrira ali, naquele momento, que a vida é, realmente, uma falta de vergonha e que, por mais que digam o contrário, as coisas nunca sairiam deste mar de incertezas e dor. Chorei e não me senti consolado, mas, pelo menos, não tive que dar explicações a ninguém, porque minhas lágrimas se misturaram aos pingos da chuva que surravam meu rosto, e ninguém percebeu meu pranto, ou seja, mais uma vez, chorei sem que ninguém notasse. Ninguém!
E vi, junto com o lixo que singrava pela enxurrada, os meus sonhos irem-se também. Vi as minhas últimas quimeras afogarem-se em meio à água suja que lavava o asfalto quente pelo sol escaldante de verão. E vendo tudo ser levado pela enxurrada, fui compreendendo com mais clareza que eu não tinha mais nada! Já haviam me roubado tudo, me tirado as coisas que eu pensava ter, e agora, até as minhas quimeras miseráveis haviam se afogado na enxurrada cheia de lixo. Será que as quimeras que cultivamos são lixo?

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