17 de maio de 2010

Um não sei que de desassossego


Um fragmento escrito por mim em uma de minhas noites em claro:

Desarranjo

"Mais uma noite insone. Ah, esta insônia que me persegue há tempos! Aproveito essa hora pra escrever, para contemplar o silêncio que jaz na madrugada, pra tentar colocar pra fora as coisas que sinto, que gostaria de sentir e as coisas que, sequer, sei sentir.
Ultimamente ando a procurar algo que nem sei o que é, na verdade. Olho para a minha vida e vejo que tenho tudo o que é necessário para sobreviver, mas falta-me ainda uma coisa, e eu não sei o que é. Estou procurando, procurando, procurando...Acredito muito em Deus, sei que Ele está comigo, tenho minha família, tenho amigos: poucos, porém fiéis; tenho a minha profissão, tenho um amor – ainda que platônico, mas tenho. O que será que me falta?
Sinto uma necessidade estranha de viver num abraço. Amo ser abraçado, e parece-me que a cada dia que fico sem um abraço sou capaz de morrer, me sinto desprotegido, inseguro. O que me falta? Que eu gosto da tristeza e da morbidez, já assumi. Que não suporto ser feliz por muito tempo, que creio que minha vida não anda, isso também todos já sabem.
Ah, como tenho saudades! Saudades de nem sei quem, de algo que não vivi, de alguém que não conheci. Saudade de um tempo em que as coisas pareciam mais simples, de um tempo onde eu acreditava ser possível a idéia de felicidade. Quantas coisas eu queria reviver.
Momentos que foram rápidos, efêmeros, mas deixaram marcas fabulosas em mim. Ao mesmo tempo, quero extinguir de mim as sombras que, constantemente, vem me assombrar. É como se houvesse um abismo intangível entre mim e a felicidade. Não acredito em felicidade desde muito tempo, quer dizer, acredito na felicidade dos outros, pois os vejo sempre conseguindo seus intentos, comigo, tenho a impressão de que a vida sempre faz questão de me apunhalar, e é justamente nesse ponto onde sinto que estou em desarranjo com a vida e com tudo o que ela encerra.
Já escrevi tanto, já pensei tanto, já chorei tanto, já idealizei tanto que não sei mais o que fazer, que rumo tomar. Meus gritos mudos tornam-se cada vais mais agudos, mais latentes e a dor que há em mim torna-se a cada hora pior. Dói viver, dói tentar ser feliz, dói querer ser amado, dói amar, dói ser Juliano! Dói ser sozinho, me sentir só, andar só em meio à multidão. Dói pensar que minha vida não é um pôr-do-sol dourado no horizonte.
Outro dia, numa cinzenta manhã de verão, acordei com a estranha sensação de ter perdido alguma coisa importante. Era como se algo houvesse morrido repentinamente em mim e eu só estivesse me dando conta naquela hora, ao acordar. O que seria? Até hoje tenho essa sensação, e não sei o que perdi pelo caminho. Apenas sei que o espaço que isso ocupava, só ajudou a aumentar o vazio e a angústia que desde há muito são latentes em mim".

Nenhum comentário:

Postar um comentário