10 de abril de 2012

Indigência


O que segue é um trecho de um conto que escrevi há alguns dias. Na verdade, iniciei o conto com o escrito abaixo, mas não me senti à vontade para postá-lo na íntegra, posto que eu ainda não o entendo bem. É um mistério. Saí ligeirmente do hábito de colocar data e hora, mas lembro-me que foi numa madrugada de domingo par segunda-feira, ouvindo uma chuva quase violenta chocar-se contra minha janela.

"...estou relutante quanto a escrever o que se passa em minha mente nesta hora. Não sei bem como isso se dará, ou mesmo se realmente tenho coragem de expor o que tem tomado forma e se debatido há alguns dias dentro de mim, pois escrever, muitas vezes, ou mesmo dizer algo, é também se expor à uma realidade tão gritante e tão silenciosa em nós que chega a dar medo. Estou receoso.
De qualquer modo, penso ser melhor começar assim, falando acerca de como me sinto, como um preâmbulo, uma introdução, do que simplesmente começar a descrever o que se passa, até porque, sinto como se a “coisa” em mim ainda não tivesse forma definida, de modo que até penso que seja cedo para tentar fazer nascer este “filho” de minhas entranhas. Não o quero nascido a ferro; quero retirá-lo das minhas vísceras e da minha alma de modo natural, porém, temo que posso deixá-lo morrer e afogar-se em si mesmo se não tomar a atitude drástica de trazê-lo à tona. Na verdade, só de pensar na dor que o que segue poderá causar-me, sinto o estômago contrair-se dentro em mim como numa indigestão, até porque é indigesto para mim, como a vida tem sido desde que me entendo por gente. Sou gente? O que leva alguém a julgar-se pessoa, a julgar-se humano? O que é um humano? Como existir nisso que se denomina vida e ser um humano? São tantas dúvidas e nenhuma resposta. O que hoje se faz pergunta, amanhã já nem existe, pois o que se pergunta hoje é respondido amanhã, e a pergunta do presente torna-se, já, passado.
Estou protelando o nascimento. Sinto que agora já é hora. Está pronto; tomou forma e já começa a nascer pelas pontas dos meus dedos". (...)

P.S.: O conto se chama Vulto de Humanidade.

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