16 de junho de 2011

No rosto sorrisos de alegria. Na alma, turbilhões!


Caos

"Como sempre, é madrugada. O silêncio que paira sobre esta noite fria torna-se mais perturbador a cada golfada de ar que me enche o peito de uma vida insípida, que só se deu ao trabalho, desde que me reconheço como gente, de me golpear das maneiras mais baixas que alguém possa imaginar. O ar gélido deste fim de outono deixa na alma uma sensação mais incisiva de vazio, e a solidão, pelo que vejo, alastra-se, desenrola-se ao sabor da leve brisa que balança as janelas empoeiradas. Quase vejo no ar uma cor amarelada, como de páginas envelhecidas de um livro triste, onde gotas de amor e morte fundiram-se numa única embriaguez.
A cada dia, viver me é mais violento, doloroso. Me vejo cada dia mais só, ao perceber que todas as possibilidades vão se extinguindo, se afastando de mim. Queria, pelo menos uma vez na vida, escrever sobre uma alegria radiante que me invadisse a alma. Ou mesmo sobre como o céu azul me tocou no fundo do âmago; ou mesmo como o sol de verão, de um domingo qualquer, me arrancou um sorriso inusitado, mas não!
Apenas o que se concentra em minha alma são turbilhões, turbilhões, turbilhões...
Nunca soube o que é provar de um único segundo de paz, de leveza. Tudo em mim se faz um caos absoluto, de intensidade tamanha que chega a me tirar o fôlego. Se um dia me roubassem a possibilidade de viver desse modo, certamente eu morreria. Não fisicamente, mas por dentro, na alma – muito embora ela já tenha morrido há anos – pois me forçariam a viver num mundo que não é meu. Sem caos, certamente não existo. Sem os turbilhões, provavelmente desfaleço! Sem as águas indóceis das minhas dúvidas, tristezas e amores que desmoronam ora por estupidez minha, ora por afastamento de outros, certamente não seria eu, pois é justamente isso que alimenta meus versos, que me impulsiona a qualquer outra coisa, na esperança vã de conseguir ser não-cinza!"
. (Juliano Cruz - 16/06/2011 01:20h aprox.)

Um comentário:

  1. A forma como vc se espressa, faz com que o interlocutor se sinta imerso, quanse como uma camera subjetiva ... vendo através de seus olhos dautônicos...

    muito bom

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