9 de setembro de 2010

Intolerável


"De tão caótica, há períodos em que a vida se torna intolerável dentro de mim. Não encontro outra forma de me libertar desse caos senão escrevendo, tentando entorpecer a mente, a alma, ou seja lá o que for com estas simples confidências tristes que me escorrem pelas pontas dos dedos como se fossem um lamento líquidos de proporções escandalosas!
Às vezes essa coisa intolerável perdura por dias a fio. Outras vezes, se ausenta de mim em prazo de milésimos de segundos. O tempo que duram, na verdade, pouco importa. Importa, realmente, saber que estes períodos de vida intolerável, cheia de vazios e cinzas devastam-me quase por completo. Em tempos assim, eu só consigo enxergar os dias coloridos como pálidos reflexos de qualquer coisa. Tenho ódio ao sol, náusea à luz e às cores. Tudo se torna tão insuportável que julgo estar perdendo uma parte importante de mim, como se ame fosse abortado algum órgão vital.
Intolerável, vazia, acinzentada...assim vejo as ruas, os carros, os amantes sob o luar, as flores da palpitante primavera que se aproxima. A vida dentro de mim se estancou há muito. A alma, pelo que vejo, já é morta, porém o corpo ainda faz questão de se manter vivo. Nada me desperta a atenção: as cores, os sons, os odores, enfim, tudo se faz sentir por mim com uma agressividade tamanha, como se minha alma estivesse transcendendo meu corpo, transbordando por meus poros. A única coisa que ainda procuro é um olhar numa rua qualquer que me reconheça, que se reconheça no meu olhar; um abraço que necessite do meu abraço, não sei quê de satisfação que consiga me atingir na veia".

Juliano Cruz
(08/09/2010 – 22:38h)

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