4 de setembro de 2010

"Eu tive um sonho ruim e acordei chorando..."


Escrevi este texto ainda há pouco, após acordar de um pesadelo. Há muito de mim no que escrevi, como também há coisas de outras pessoas próximas a mim. É madrugada e eu não consigo dormir...


Uma overdose de verdades da vida

Ela não era feia. Tinha um belo corpo esguio, longos cabelos castanho claro e nos olhos esverdeados a fúria de um mar bravio. Apenas não era dada a conversas fúteis, o que fazia dela um ser humano incomum; diferente da maioria. Porém, a maioria a achava estranha. Ela era inteligente: lia bons livros, ouvia boa música, apreciava bons filmes, e tinha apenas 17 anos. Seu nome era Mariana.
A coisa toda começou na escola. Um dos meninos, popular, até, se aproximara dela e começara a notar que ela era muito mais do que o silêncio e os jeans surrados que usava. Ali havia alma! Uma alma cheia de encantos e de uma vida indizível. Por fim, acabou por apaixonar-se. Não havia muito a fazer senão apaixonar-se por aquela criatura tão meiga. Cheia de puros desejos de felicidade, apreciou andar pelos corredores do colégio de mãos dadas com seu romance adolescente, cheio de maturidade.
Muitos se doeram com isso.
- Quem ela pensa que é? – diziam as bocas infernais.
De tão inconformados com aquela cena, resolveram tramar o fim daquilo tudo. Não gostavam de Mariana, que jamais fizera qualquer coisa que pudesse angariar o ódio de alguém. Aliás, havia sido ensinada, desde criança, que todos têm o direito de serem como quiserem ser, e que ninguém tem o direito de interferir nas escolhas dos outros. Fora educada a respeitar a quem quer que fosse!
Infelizmente, não gostavam de Mariana. Desejaram vê-la não morta, mas humilhada, e escolheram para isso, o dia do baile de formatura. Queriam vê-la infeliz...quanta maldade!
O ginásio do colégio estava cheio. A música tocava freneticamente, e corpos já suados esbarravam-se uns nos outros, naquilo que parecia ser uma tentativa de dançar. As luzes coloridas varriam o ar espesso e pesado do ginásio naquela noite tórrida de verão. Mariana estava esperando seu par. Esperou, esperou, esperou, esperou e nada! Havia colocado um vestido azul brilhante, prendera o longo cabelo num arranjo de flores. Fez o melhor para aquela noite, não simplesmente para ficar bonita, mas para agradar aquele a quem seu coração escolhera. E ele, pensou ela, se deu o direito de não aparecer.
Enquanto Mariana se dirigia apressada para a saída do ginásio, tropeçando na barra de seu longo vestido, uma lágrima revolta correu de seus olhos claros. A maquiagem se desfez, assim como se desfizera o sonho de ser amada.
Sentiu dissolver-se ao sabor de suas lágrimas indóceis as quimeras, as ilusões e a lembrança daquilo que poderia ter sido. E uma saudade sem tamanho encheu o coração vazio de Mariana. Sentiu saudades do tempo em que podia ser ela mesma, sem que ninguém lhe perturbasse o espírito; saudade de quando podia simplesmente viver tranqüila, sem se preocupar em ter que agradar a alguém para ser aceita. Antes de chegar à porta de saída, viu aqueles que lhe zombavam e olharem para ela satisfeitos, com gargalhadas terríveis a lhe subirem do estômago.
Logo de início, percebeu que eles haviam tramado tudo. O que lhe doeu mais não foi a armação contra ela, contra sua felicidade, mas o riso! Isso a remeteu a tantos anos sendo motivo de cochichos e risos pelos corredores do colégio. E piorou muito quando aquele a quem ela amava surgiu entre todos, apontando-lhe o dedo e rindo. Enquanto saía daquele lugar inóspito, tropeçou na barra de seu vestido azul brilhante. Aí é que choraram de tanto rir!
Com a maquiagem desfeita, com os olhos embotados de rimel e lágrimas, Mariana descobriu que a música dizia a verdade: antes que o sol lhe viesse socar a cara, ele já teria ido embora. E assim terminou a noite: libertadora, já que não tornaria a ver aquelas pessoas que tanto a machucaram, mas dolorosa, porque aprendeu no riso deles que o amor é uma catástrofe, e machuca muito! (04/09/2010 - 01:28h)

Um comentário:

  1. O Amor é uma catástrofe.
    ... aprendi um pouco mais sobre isso dias desses.

    Abraços de quem tb sonha e acorda chorando,

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